A importância da integridade teológica e moral no pastoreio

Um dos livros mais importantes para aqueles que almejam o episcopado, ou até mesmo exercem a vocação, é “De pastor a pastor: princípios para ser um pastor segundo o coração de Deus”, do teólogo e pastor Hernandes Dias Lopes. Ao longo de toda a narrativa, somos confrontados com verdades que, muitas vezes, passam despercebidas ou são esquecidas ao longo dos anos de ministério. Além de tratar da vida devocional do pastor, do preparo, da vocação e dos sofrimentos, Hernandes traz lições valiosas sobre os perigos do pastor. A palavra está correta, pois muitos são os riscos e perigos que afligem os pastores e, consequentemente, a vida da igreja. Hoje, vamos explorar alguns dos pontos abordados pelo escritor.

A classe pastoral está em crise

Não é preciso ser um cristão convertido para notar que algo está errado com a igreja protestante. Mesmo crescendo exponencialmente a cada ano, a maioria dos sermões pregados estão distantes da sã doutrina e seus líderes e pastores vivem uma profunda crise de integridade teológica e moral.

O que Paulo diz ser essencial em I Timóteo 3 não é o que testemunhamos em nossa vida cotidiana. O próprio Hernandes Dias Lopes conta que, ao passar pela imigração, a caminho dos Estados Unidos e do Canadá, os agentes o olham torto quando descobrem que ele é um pastor. O que antes era motivo de orgulho, hoje é sinônimo de desconfiança.

Essa crise acontece por vários motivos, mas, talvez, o mais grave seja a grande comunidade de pastores que prega a palavra ainda não sendo convertido por ela e muitos que não são vocacionados, mas que tomam o ministério para si sem serem inspirados por Cristo.

A questão vital é que conhecer as escrituras sem ser vocacionado é insuficiente; da mesma forma que não conhecer as escrituras profundamente sem amar a igreja também é. A diligência para com a palavra complementa o amor pela obra firmando o fundamento necessário: valores morais centrados em Cristo. O que se vê no Brasil são muitos pastores afogados em uma missão que não dão conta porque não são vocacionados ou porque não são pastoreados por outros. A compreensão de que é preciso carregar tudo sobre os ombros não só é infundada como prejudicial. É bem possível que você já tenha ouvido as histórias da família do pastor – que muitas vezes sente falta do pai ou do marido em casa; que não tem referências, pois o pastor se doa mais à igreja do que à  sua família.

Todos esses problemas formam crises para todos os lados, desde a família do pastor que está em pedaços pela má condução do ministério até a compreensão da sociedade diante das obras da igreja. A realidade precisa ser enfrentada e corrigida, pois Cristo se importa com o seu corpo de pastores, com as ovelhas e com os demais que devem ser protegidos pelo corpo de Cristo.

Há pastores doentes no ministério

“As igrejas precisam ser mais criteriosas no envio de candidatos aos seminários. Um pastor sem equilíbrio emocional pode trazer grandes prejuízos para si, para sua família e para a igreja. O ministério tem suas complexidades e exige obreiros bem resolvidos e saudáveis emocionalmente.”  Hernandes Dias Lopes

O profeta Elias passou por um período depressivo (I Rs 19) e isolou-se do ministério. Aqui, não queremos dizer que você só serve se estiver bem, mas que se não estiver bem deve ser cuidado e ser  pastoreado como qualquer outro membro.

Hernandes traz um dado importante neste capítulo do livro: mais de 50% das pessoas que entram no gabinete pastoral são do sexo feminino e  mais de 50% dos problemas tratados são ligados à área sexual e sentimental. Perceba que se o pastor estiver enfrentando um problema conjugal, logo sentimentalmente fraco, o aconselhamento, que deveria ser motivo de alegria, pode se tornar uma tentação de Satanás. Um pastor não pode ser orgulhoso e deve pedir ajuda!

“Há um amontoado de pastores que perderam o ministério dentro de um gabinete pastoral. São como Sansão, verdadeiros gigantes, mas fracotes emocionais que se derretem diante da sedução e perdem a visão, o ministério, a família e a própria vida.”*

Há pastores com medo de fracassar no ministério

Esse talvez seja o perigo mais comum entre os pastores. Quando o medo de fracassar toma mais os pensamentos do que o anseio de servir à comunidade cristã, a coisa não está indo para um caminho muito bom.

“O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei temor? O Senhor é o meu forte refúgio; de quem terei medo? Quando homens maus avançarem contra mim para destruir-me, eles, meus inimigos e meus adversários, é que tropeçarão e cairão.” Salmos 27. 1 – 2.

“Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.” 2 Timóteo 1.7.

“Busquei o Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores.” Salmos 34:4

“No amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora o medo;” 1 João 4

A própria palavra já nos encoraja a não temer. Afinal, Deus é a nosso guarda que não dorme. Acredito que o medo nos atinge quando estamos inseguros ou incertos sobre algo e também pelo fato de não querermos falhar. Mas a verdade é que falharemos, pois não temos certeza de tudo e somos falhos. Sobre a maravilhosa graça de Deus, podemos, pela sua misericórdia, pastorear na certeza de que Ele é o nosso maior parceiro e, que de todos, é o que mais sonha com o nosso sucesso.

Conclusão

Aqueles que são centrados em Jesus, vocacionados por Ele, humildes , que  anseiam em servir à comunidade cristã, podem contribuir no resgate da importância do cristianismo na sociedade vigente. Se nos mantivermos íntegros, moralmente coerentes e apaixonados pelas escrituras, certamente estaremos no caminho excelente rumo ao pastoreio segundo o Mestre.

* Texto com contribuições extraídas no livro “De Pastor a Pastor: princípios para ser  um pastor segundo o coração de Deus”, de Hernandes Dias Lopes.