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Hospitalidade assassina

Hospitalidade assassina
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Foi praticando a hospitalidade que, sem saber, alguns acolheram anjos. E foi sem discernimento que, alguns acolheram demônios.

Hospitalidade desprezada

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Mais do que ignorada, a hospitalidade é uma prática desprezada pela maioria dos cristãos. E esse desprezo não é exclusivo da modernidade, pois desde o Antigo Testamento Deus adverte seu povo para que a pratique corretamente. De Levítico a Romanos, o memorando é o mesmo: “Não se esqueçam da hospitalidade”.

A memória, de fato, parece ser um dos ingredientes essenciais da hospitalidade cristã. Moisés precisa lembrar ao povo que, pelo fato de eles terem sido forasteiros no Egito, não podem desprezar os estrangeiros que viviam entre eles. Paulo, Pedro, Tiago e o autor de Hebreus fazem coro ao patriarca, pois “…foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos”.

Pois bem. Se a memória é essencial, também é preciso lembrar que – sem o saber, alguns acolheram demônios. Nessa receita caseira entra em cena o segundo ingrediente essencial para a hospitalidade, que serve a Deus e é por ele ordenada: o discernimento.

Hospitalidade sem discernimento

É importante notar o desprezo dos cristãos à hospitalidade. Eles não discernem essa ordem, portanto ignoram sua importância e os efeitos devastadores, assassinos e eternos de sua displicência. No Éden, o santo e o comum ocupavam o mesmo espaço, jardim, templo e lar se entrelaçavam harmoniosamente e eram indistintos até que um hóspede astuto se aproveitou para atacar a ordem e enganar sua anfitriã. Como escreve Aimme Byrd, ali não havia problemas de memória, já que antes da queda Adão e Eva não tinham cérebros esquecidos como os nossos. A crise foi mesmo de discernimento. Não a falta deste, mas a sua distorção.

“Deus deu a Adão e Eva tudo o que eles precisavam para obedecer. Então, eles não podem ser desculpados por ignorância inocente de suas vocações ou da palavra de Deus; pelo contrário, eles são culpados por negligência e rebelião absoluta. A árvore do conhecimento do bem e do mal representa autonomia de Deus. Representa autoconfiança e autogoverno para determinar o que é bom e mal. É isso que Satanás desafia”.
Aimee Byrd, No Little Women

Discernimento e memória se ausentam de maneira triste e admirável na narrativa de Gênesis 3, pois após acolher arbitrariamente ao hóspede assassino no jardim-lar, Eva passa a ser desafiada de forma ainda mais direta em sua Teologia e é questionada por Satanás, “Foi isso mesmo que Deus disse?”. Se em Hebreus alguns receberam anjos em casa “sem o saber”, vemos que Eva recepciona ao Diabo, sabendo que era errado. Em sua resposta, ela acrescenta ordens ao que Deus havia estabelecido, ouve a interpretação distorcida do Inimigo sem questioná-la, e muito menos refutá-la. Além de não defender a verdade e nem expulsar quem a corrompe de sua casa, Eva acolhe a mentira e segue seu caminho de rebelião. Ela observa como o fruto era atraente, agradável, desejável e dá a mordida mortal, mais preocupada em satisfazer seus sentidos do que em submetê-los à lei de Deus.

Negligente, Adão também não cumpre suas obrigações de guardar e cultivar o jardim-lar. Seu silêncio nos conta tanto quanto a conversa entre Eva e Satanás. Ele aceita o fruto mordido das mãos de sua esposa e o come deliberadamente, sem engano. As palavras da Serpente ecoam entre as árvores do Jardim e o seu guardião primogênito nada faz para as calar, pelo contrário, ele torna o silêncio seu próprio esconderijo.

Se a hospitalidade cristã tem dois ingredientes essenciais (memória e discernimento), a hospitalidade assassina também tem uma receita especial: negligência e rebeldia.

Em maus lençóis

Em Provérbios 7 lemos que a casa da mulher perversa é o “caminho que desce à sepultura” e que “muitas foram as suas vítimas; os que matou são uma grande multidão”. Sua casa tem o que é mais agradável aos sentidos: cobertas de linho fino do Egito, uma coleção de perfumes especiais só para a cama e tudo o mais que o Pinterest da época poderia oferecer! Se hospitalidade se resumisse a habilidades domésticas, a mulher perversa seria considerada exemplar, quem sabe até mesmo piedosa, já que ela não cuidou apenas de arranjar o ambiente de maneira agradável, mas também se preocupou em fazer suas obrigações cerimoniais e prestar sacrifícios a Deus. Ela não era uma pagã qualquer! Assim como no Éden, o dulçor de palavras sedutoras encontrou o coração rebelde e sem juízo de mais uma vítima da hospitalidade assassina.

Não que os cuidados com a casa devam ser menosprezados. Ninguém deseja estar em um ambiente sujo e desorganizado. Mas se a ideia de hospitalidade se limitar a uma boa decoração e culinária, então todos deveríamos ser discípulos de Martha Steward e não de Jesus Cristo! E por falar em Marta, a narrativa ao final de Lucas 10 demonstra perfeitamente o que é discernimento bem aplicado à hospitalidade. Enquanto Marta está “perturbada e ansiosa com muitas coisas” e não consegue desviar o olhar de todo seu serviço, Maria fica aos pés de Jesus e “ouve sua palavra”. Seja ao receber o forasteiro ou o irmão, a hospitalidade nos leva a servir a Deus em primeiro lugar nos colando aos seus pés, debaixo de sua palavra. Se aquilo que vem da boca de Cristo fosse menos importante (e urgente) do que o que ia para seu estômago, Jesus não responderia “poucas (coisas) são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”.

Questões práticas como alimentação e logística não devem usurpar a primazia que Cristo e sua Palavra devem ter na casa do cristão, em qualquer ocasião. Não teremos o mesmo tipo de honra que Marta e Maria tiveram ao abrigar Jesus e seus discípulos pessoalmente, mas temos a responsabilidade semelhante de escolhermos aquilo que é melhor e necessário, ou seja, a Palavra de Deus. É esse o fundamento que sustenta a memória e o discernimento e destrói a rebeldia e a negligência.

E é exatamente por isso que a hospitalidade é uma arma com o poder de edificar ou de destruir. Não é um acessório piedoso, como uma espécie de selo de habilidades que o crente vai acrescentando ao seu uniforme de ovelhinha, à semelhança dos escoteiros. Muito pelo contrário, a hospitalidade é questão de vida ou morte, como deixam claras as exigências de Deus em diversas passagens ao longo do Antigo e Novo Testamento.

Discípulas X Mulherzinhas

Os contrastes do poder mortal da hospitalidade são muito evidenciados na segunda carta de Paulo a Timóteo. Primeiro, lemos sobre a educação que  Timóteo recebeu de sua mãe Eunice e avó Lóide. O lar serviu de palco para que a “fé não fingida” fosse passada delas para o jovem pastor, em um discipulado doméstico que produziu frutos eternos e úteis para nós até hoje. A maternidade e hospitalidade praticadas por essas duas mulheres foi, antes de tudo, o derramar do conhecimento de Deus na vida de uma criança que futuramente serviria na edificação da Igreja. A educação por elas concedida não estava “perturbada com muitas coisas”, mas focada na tarefa principal de fazer um discípulo de Cristo. E ao contrário de Adão, o silêncio de um pai pagão não foi suficiente para destruir essa vocação.

Em seguida, lemos sobre a hospitalidade assassina.

“São estes os que se introduzem pelas casas e conquistam mulherzinhas sobrecarregadas de pecados, as quais se deixam levar por toda espécie de desejos. Elas estão sempre aprendendo, mas não conseguem nunca chegar ao conhecimento da verdade. Como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, esses também resistem à verdade. A mente deles é depravada; são reprovados na fé. Não irão longe, porém; como no caso daqueles, a sua insensatez se tornará evidente a todos” (2Timóteo 3.4-9).

O contraste de Eunice e Lóide com as “mulherzinhas sobrecarregadas de pecados” é chocante. De um lado, duas discípulas que discerniram e memorizaram a Palavra de Deus de tal forma que o ambiente por elas cultivado e guardado produziu frutos de justiça eterna. Já a casa das “mulheres néscias”, como dizem outras versões, foi tomada como palanque para mestres falsos com mentes depravadas. Assim como a mulher perversa que vai ao templo prestar culto antes de enfeitar sua cama para o adultério, os que são como as “mulherzinhas” se preocupam em aprender, mas falham no discernimento e na memória, pois apesar de seus esforços aparentemente piedosos, nunca conseguem chegar ao conhecimento da verdade.

Mulheres fracas estão satisfeitas com meias-verdades porque já estão comprometidas com seu pecado. Elas são atraídas por uma falsificação – algo que parece piedoso, mas não abrange toda a verdade de Deus.
Aimee Byrd, No Little Women

Quando está aos pés de Cristo, o discípulo não consegue estar “sobrecarregado de pecados”. Para manter uma vida assim, só “teologia meia boca presta”, pois a vida de negligência e rebeldia que alimenta a hospitalidade assassina não “resiste a verdade” e logo “sua insensatez se torna evidente a todos”.

Hóspedes reais ou expostos em livros, vídeos e músicas que trazemos para dentro de casa podem ter a aparência de piedade, como os mestres falsos de 2Timóteo, mas no fim são levados pelos mesmos desejos consumados por Eva ao dar mais importância para a satisfação de seus sentidos do que às ordens divinas: “mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus”. Afinal, nem todos vão receber a visita inesperada de serpentes endiabradas na sala de estar. Os disfarces assumem outras formas, mas o Inimigo continua astuto em utilizar a rebeldia e negligência de homens e mulheres para trazer morte e destruição àqueles que derem ouvidos às interpretações distorcidas da Palavra de Deus.

“Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho. Se alguém chega a vocês e não trouxer esse ensino, não o recebam em casa nem o saúdem” (2João 1.9-10).

Fonte: Teomídia

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