Como posso conhecer a Deus? Essa é a pergunta que muitos fazem quando são confrontado pela religião, pelo sobrenatural ou pela própria necessidade. A necessidade de buscá-lo em meio às dificuldade da vida para encontrar algum consolo. É natural que muitos busquem a Deus esperando encontrar o que esperam; o que definem; o que limitam. Afinal, nós somos limitados. Nesse sentido é preciso aprender a buscá-lo. A teologia estuda e define este processo como revelação.
Revelação é, portanto, “o conceito cristão de que Deus opta por se fazer conhecido e torna isso possível por intermédio de sua auto-revelação na natureza e na história humana.” (MCGRATH, Alister. p.245)
A busca do ser humano por Deus envolve pesar as evidências sobre Ele que encontramos no mundo natural, dentre as quais estão a razão e a consciência. Hugh Ross, teólogo escocês, disse que “um conhecimento de Deus que seja baseado na religião, onde quer que venha a existir, acontece sempre por intermédio da revelação; do contrário, defenderíamos a posição inacreditável de que o ser humano é capaz de conhecer a Deus, sem que haja o desejo divino de revelar-se.”
Aqui, já encontramos o primeiro ponto crucial no conhecimento de Deus: é ele que decide se revelar a nós e não o contrário.
Conhecimento de Deus x Informações sobre Deus
Alguns teólogos afirmam que existe um conhecimento natural de Deus, mas ele é não é profundo e tampouco enraizado.
Em sentido bíblico, o conhecimento de Deus não significa simplesmente o fato de possuir informações a respeito de Deus, mas sim de uma auto-revelação de Deus, em Cristo Jesus, que é capaz de proporcionar vida e trazer salvação. A revelação não é uma mera transmissão do conhecimento de Deus, mas de uma manifestação pessoal de Deus na história. Jesus de Nazaré é o ápice do intermédio de Deus em seu processo de auto-revelação.
É na doutrina de encarnação que a revelação assume forma pessoal, mas há muitas formas de revelação segundo a teologia contemporânea.
A doutrina como revelação
Deus não abriu mão de seu propósito para nos ter como amigos; ao contrário, em seu amor por nós, decidiu-se a resgatar-nos do pecado e reconciliar-nos consigo mesmo. Seu propósito, ao agir desse modo, era revelar-se a nós como Redentor e Recriador, por intermédio da encarnação, morte, ressureição e poder de seu filho. – James Parker
A revelação da doutrina está intimamente relacionada ao ensino eclesiástico. É a forma como a igreja compreende a revelação de Deus por meio de Jesus Cristo e do estudo da bíblia ao longo dos anos. Fato é que essa não é a única forma de revelação. Karl Barth aponta que a Bíblia não é revelação em si mesma; ela representa um testemunho da revelação.
Nesse sentido é preciso buscar pela revelação de forma complementar.
A presença como revelação
Esse modelo de revelação diz sobre a noção de revelação como comunicação pessoal de Deus. Ou seja, uma revelação da presença pessoal de Deus no interior daquele que crê.
Emil Brummer aponta que a revelação não pode ser vista como transmissão de informações sobre Deus. “A revelação nunca é uma mera transmissão de conhecimento, mas sim um relacionamento que traz vida e transformação.” Fato é que essa forma de compreensão é um salto do que se via na idade média, quando as informações sobre Deus e a interpretação de sua palavra limitavam o revelar-se.
A experiência como revelação
De acordo com essa perspectiva, entende-se que Deus se revela ou se dá a conhecer por intermédio da experiência pessoal. Essa abordagem é considerada por muitos como a mais ligada ao protestantismo liberal. Diz sobre a devoção pessoal à Cristo, dando ênfase na importância desse processo enquanto experiência.
O modelo é criticado justamente por negar, em algumas vezes, a importância da razão no processo de conhecimento de Deus.
A história como revelação
O nascimento de Jesus Cristo e o relacionamento de Deus com Israel é o que marca a revelação pela história. De acordo com o teólogo alemão Pannemberg, a teologia cristã se baseia na análise da história universal e conhecida e não na subjetividade interna da existência humana pessoal ou em uma interpretação particular dessa história. Para ele, a história em si mesma é uma revelação.
Conhecendo um Deus que se revela
Os modelos e compreensões teológicas estão sempre se aperfeiçoando e contribuindo para a nossa interpretação e conhecimento de Deus. Em todos os modelos descritos acima é possível vê-lo. Oramos, portanto, para que o equilíbrio dê o balanço necessário para que o conhecimento profundo de Deus seja real na sua vida. Afinal, tudo é importante – desde a palavra até a experiência.
- Estudo amparado no livro Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica de Alister E McGrath
Fonte: Helio Barros Leite