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O pensamento clássico sobre a temporalidade e eternidade

O pensamento clássico sobre a temporalidade e eternidade
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Por Cristiano Nickel

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[i]Derivado

não que eu me importe
mas asseguro
não há mais portos
seguros
aderi aos delírios do meu tempo
sou barco à deriva
e me contento   

INTRODUÇÃO

Tempo e Eternidade. Duas palavras que permearam séculos de discussão filosófica-teológica. Desde o pensamento mitológico até a contemporaneidade, o questionamento sobre temporalidade e eternidade são debatidos. Através de uma bibliografia elementar, será apresentado uma breve introdução do pensamento clássico sobre o Tempo. Iniciaremos pela mitologia grega e filósofos gregos perpassando por Agostinho, Pascal e Nietzsche. O autor possui ciência de que “pulou” importantes pensadores como Berkeley, Kant, Einstein e Freud. Tais autores debateram profundamente o tema em questão.

MITOLOGIA E PENSAMENTO GREGO

Na mitologia grega[ii], Cronos, filho de Urano e Gaia, foi o responsável por romper a cópula “eterna” de seus progenitores, realizando o corte peniano de Urano e permitindo assim um espaço entre a terra e o céu. Nesse espaço, a temporalidade rotulou a vida com prazo de existência, o prazo de um vida temporal num ambiente de sobrevivência. De Cronos percebe-se em nossa língua lusófona a raiz que denota cronologia, cronômetro, cronograma, etc.

Da Mitologia para a Filosofia. Platão[iii] entendia claramente o dualismo entre tempo e eternidade, através do mito da caverna. Os nossos sentidos percebem apenas o reflexo das coisas – o que é perceptível é, de fato, ilusório e fugaz. A temporalidade revela a inferioridade ilusória de nossa vida. No entanto, somos constituídos de alma. A alma para Platão é o fragmento do mundo das Ideias. É o acesso fora da caverna ilusória e transitória. A alma dialoga com o verdadeiro, com o que é correspondente, com o que é eterno. O homem platônico é um ente universal e dualista que mesmo sendo temporal, fugaz e mesquinho possui a eternidade em sua alma.

No pensamento de Aristóteles[iv], a dualidade é entre o Ser Supremo Inteligível (eternidade) e o Ente (temporalidade), onde o espaço coexiste no tempo. O tempo tem instantes e os mesmos não podem coexistir. Não há dois instantes simultâneos. Diante dessa problemática, Aristóteles refere-se ao tempo como uma aporia.

Para Epicuro[v] o tempo é algo singular e particular. A temporalidade é hedonista. Não o hedonismo da sociedade de consumo, mas o hedonismo das sensações, percepções e capacidade de viver bem com a vida imersa na simplicidade. A temporalidade é o dilema entre prazer e dor, tempos de gozo e tempos de lástimas.

AGOSTINHO[vi]

Agostinho, de fato é o maior pensador sobre o tempo. O livro XI das Confissões é considerado um dos maiores dilemas apresentados sobre tempo e eternidade. As confissões de Agostinho consiste em uma conversa com Deus. Temas como juventude, natureza, teologia, eclesiologia e demais assuntos complexos são expostos em um diálogo temporal-eterno. Agostinho nos dá uma lição diante dos nossos dilemas pós-modernos. O pensamento mais profundo de Agostinho resume-se em oração a Deus. Parece que nós teólogos somos mais aristotélicos do agostinianos em nossa maneira de apresentar as assertivas e temas contemporâneos.

Agostinho questiona a Deus: O ser humano não sai do lugar. Por quê? “Sendo Vossa a eternidade, ignorais porventura, o que eu vos digo, ou não vedes no tempo o que se passa no tempo?” (p. 291) Agostinho discorre intuitivamente e chega à conclusão de que não sabemos sobre o tempo porque somos temporais e não podemos medir o tempo com o tempo. Mas só é possível medir o tempo com a eternidade. Só Deus sabe o que é temporal.

No pensamento agostiniano o pensamento intuito leva ao questionamento sobre o passado, futuro e presente. Pelo instante eu consigo acessar o passado através da lembrança e da memória. O futuro é especulativo, não é mensurável; mas conseguimos projetar o futuro antecipando projetos e ideais. O presente não é um instante “presentificado”. Se fosse seria eterno, e como somos temporais, é impossível. Logo os três tempos são acessados pelo instante presente: presente-passado, presente-presente, presente-futuro.

PASCAL E NIETZSCHE[vii]

No que se refere aos três tempos, Pascal dá uma bronca em afirmar que oscilamos em tempos que não são nossos: o passado e o futuro. Ou oscilamos preteritamente através das memórias e instantes afetivos/traumáticos, ou oscilamos projetando sonhos e ideais utópicos. Essa oscilação se dá ao fato de que o presente estrito é agressivo, e quando nos entristecemos pelo instante presente, fugimos para um dos extremos. Essa teoria é chamada de Escapismo. Pascal se refere aos escapes da alma, afirmando que agimos como se o presente nunca fosse o nosso fim, mas o meio. Em meio a esta assertiva, vivemos a felicidade como esperança. O futuro sendo a nossa finalidade nos leva a ter o fim fora da vida. E quando essa esperança é frustrada surge o que nos permite esperar: o medo. Vivemos o delírio missionário de um futuro motivado pelos nossos medos. Em meio a nostalgias e esperanças vivemos uma felicidade ad aeternum no presente ou no futuro.

Outro pensamento similar de Pascal é o de Nietzsche. Nietzsche afirma que não ideologia e não há transcendência. Não há eternidade e não há retorno, mas há um sentido paradoxal do “eterno retorno”. O eterno retorno é a medida da existência humana. Negativamente o ser humano é medido pela vontade de Deus, pela revolução ou por uma ideologia contundente que o leva viver outras eternidades, outras medidas de terceiros, mas não a medida de si mesmo. O eterno retorno é o instante de vida que é bom quando desejamos que não termine. O metro de Nietzsche para medir a eternidade é o aqui e agora, longe de outras eternidades alheias.

NOTAS: 

[i] Poema cedido gentilmente por Arzírio Cardoso.

[ii] HESÍODO. Teogonia: A Origem dos Deuses. Estudo e tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1991.

[iii] BRAGUE, R. O Tempo em Platão e Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2006.

[iv] Ibid, 2006.

[v] EPICURO. Carta a Meneceu. São Paulo: UNESP, 1997.

[vi] Agostinho, S. Confissões. São Paulo: Abril. 1976.

[vii] Brum, J. T. Pascal e Nietzsche. Cadernos Nietzsche n.8, 2000

Fonte: Napec

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