REFERÊNCIA: Êxodo 21.22-23
PROBLEMA: De acordo com algumas traduções da Bíblia, esse texto ensina que, se dois homens brigarem, e a mulher de um deles tiver um aborto, o responsável “será obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher” (v. 22). Mas, se da briga resultar a morte da mulher, a penalidade seria a pena capital (v. 23). Isso não prova então que o feto não era considerado um ser humano, como o era a mãe?
SOLUÇÃO: Antes de mais nada, há aqui uma tradução inadequada. O grande erudito em hebraico, Umberto Cassuto, traduziu esse texto corretamente, da seguinte maneira: Se homens brigarem, e ferirem não intencionalmente uma mulher com criança, e seus filhos forem dados à luz, porém sem maior dano – isto é, nem a mulher nem as crianças morrerem – aquele que feriu será obrigado a pagar uma indenização. Mas, se houver dano grave, isto é, a mulher ou as crianças morrerem, então darás vida por vida. (Commentary on the Book of Exodus, Jerusalém: Magnes Press, 1967.)
A tradução acima torna o sentido bem claro. E uma passagem de peso contra o aborto, afirmando que o feto tem o mesmo valor que um ser humano adulto.
Segundo, a palavra hebraica (yatsa), erroneamente traduzida pelo verbo “abortar”, na verdade significa “sair” ou “dar à luz”. No AT, é a palavra regularmente empregada com o sentido de dar à luz com vida. De fato, ela não tem nenhum emprego no sentido de “aborto provocado”, embora tenha o sentido de dar à luz um natimorto. Mas nessa passagem, como em praticamente todos os textos do AT, a referência é a um nascimento com vida, embora prematuro.
Terceiro, há uma outra palavra hebraica para “aborto” (shakol), que não é usada. Já que ela era disponível e não foi empregada, sendo preferida a palavra que expressa um nascimento com vida, não há razão para supor que o sentido não seja realmente esse: o de dar à luz uma criança com vida.
Quarto, a palavra usada com referência a que a mulher deu à luz é yeled, que significa “criança”. A Bíblia usa a mesma palavra para “bebês” e para “criancinhas” (Gn 21.8; Êx 2.3). Daí, o não nascido é considerado um ser humano igual a uma criancinha.
Quinto, se qualquer dano acontecesse, seja para a mãe, seja para o filho, a mesma punição era devida: “vida por vida” (v. 23). Isso demonstra que o feto possuía o mesmo valor que sua mãe.
Sexto, outras passagens do AT ensinam que o feto é um ser humano em seu sentido mais completo (veja os comentários de Sl 51.5 e 139.13ss). O NT confirma essa mesma posição (cf. Mt 1.20; Lc 1.41,44).
Fonte: Bíblia de Estudo – Perguntas & Repostas
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