Estudos Bíblicos

A medida com que Deus nos medirá

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“Eles são muito perdoadores, perdoam com muita facilidade“. Essa frase é a última de um documentário a que assisti recentemente e que ficou ecoando em meus pensamentos por um longo tempo. O filme chama-se “Project Nim”

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Por Maurício Zágari

“Eles são muito perdoadores, perdoam com muita facilidade“. Essa frase é a última de um documentário a que assisti recentemente e que ficou ecoando em meus pensamentos por um longo tempo. O filme chama-se “Project Nim” e conta a história de um bebê chamado Nim, incapaz de falar, e que, com duas semanas de vida, foi entregue a uma família adotiva. Lá teve todo o carinho e, ensinado por professores, aprendeu a linguagem de sinais. Assim, passou a se comunicar. Com o tempo, Nim foi crescendo e se tornou agressivo, a ponto de ter de ser removido dessa casa e levado para uma instituição onde desenvolveu fortes laços afetivos com seus tutores/professores. Acabaram se tornando também grandes companheiros. Seu melhor amigo era um deles, um jovem hippie chamado Bob. Anos depois, a instituição em que Bob trabalhava e convivia com seu companheiro sofreu problemas financeiros, Nim teve de se mudar para outra instituição e lá viveu sem amigos, isolado, sem ter ninguém que conhecesse a linguagem de sinais, abandonado, solitário e triste. Tornou-se amargo. Não tinha com quem se comunicar. Dez anos depois, Bob decidiu visitá-lo. Sem esboçar nenhum rancor pela década de abandono e todo o sofrimento, Nim brincou com o amigo, bebeu refrigerante com ele e conversou na linguagem dos surdos. Foi nesse momento que Bob falou a frase que inicia este artigo.

“Eles são muito perdoadores, perdoam com muita facilidade“. Em princípio, ao ler isso, eu poderia pensar que “eles” se refere a nós, cristãos. Afinal, somos o tipo de gente de quem mais se espera uma atitude perdoadora. Foi o que Jesus ensinou – mais do que isso, mandou. Há mais de 240 passagens só no Novo Testamento que falam sobre o tema (creia, eu pesquisei). A oração do Pai Nosso diz que devemos pedir ao Senhor que só nos perdoe na mesma medida em que perdoamos os nossos devedores (Mt 6.12). A Bíblia afirma que Jesus veio para o perdão dos pecados (Mc 2.17; Hb 1.3; 9.27,28; 10,12; Mt 1.21; Lc 19.11; 24.46,47) e que Ele é o Cordeiro sacrificado pelo perdão de muitos (Mt 26.28). Que devemos nos perdoar mutuamente, assim como Deus nos perdoou (Ef 4.30-32). Que quem não perdoa não será perdoado (Mt 18.35). Isso, aliás, é muito sério. Leia atentamente:

“E quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial lhes perdoe os seus pecados. Mas se vocês não perdoarem, também o seu Pai que está no céu não perdoará os seus pecados.” (Mc 11.25,26)

Por tudo isso, o povo que se chama cristão, entre todos os grupos humanos, é quem mais deveria perdoar e de quem mais se espera essa atitude. Então é natural que se pensasse que Bob estava se referindo aos cristãos. Mas não. Bob estava se referindo a pessoas como Nim. Só que Nim não era uma pessoa. Era um chimpanzé.

 O emocionante documentário mostra a vida desse primata que, em seus 26 anos de vida, foi transferido para diferentes lugares, viu praticamente todas as pessoas com quem desenvolveu vínculos afetivos sumirem de sua vida, chegou a ficar trancafiado por meses num laboratório onde se realizam testes em animais para o desenvolvimento de vacinas. De uma família com sete filhos, onde cresceu usando roupas humanas, brincando e cercado de afeto, Nim (foto) viveu ladeira abaixo, cada vez mais sem carinho, isolado, amargurado. Acabou só, numa jaula, sem ter com quem se comunicar. Mas, quando viu Bob, seu antigo companheiro que o havia deixado abandonado ali, à própria sorte, por dez anos, não revidou, não se vingou, não agrediu, não demonstrou rancor. Pelo contrário, foi amável, quis brincar, deu seu amor de graça. E Bob termina dizendo que chimpanzés são seres altamente perdoadores, que estendem perdão com uma enorme facilidade.

Confesso que senti vergonha da minha raça. Pois a raça humana – e falo de mim – tem uma capacidade monstruosa de não perdoar. Somos vingativos, rancorosos, maldosos, se alguém te arranca um olho você quer os dois dele. Queremos sangue! Perdoar para nós parece ser uma fraqueza. Só que ao agirmos assim simplesmente estamos sendo bem pouco cristãos.

Pensando bem, deixe-me refazer a frase: ao agirmos assim simplesmente não estamos sendo cristãos.

 Dois dias antes de ver “Project Nim” tive o desprazer de assistir ao programa “Tabu”, no canal National Geographic, sobre bruxaria. Mostrava diversos bruxos, de diferentes linhas, e suas práticas. Impressionou-me em especial o caso de Rosa, uma colombiana que perdeu o homem que amava para outra mulher. Sua decisão diante dessa situação foi procurar um sacerdote de magia negra para destruir a vida da rival. Ela foi explícita em suas entrevistas, em que dizia que não ficaria feliz enquanto não visse a outra na pior. “Não vou sair por baixo, enquanto não acabar com ela não vou descansar”, afirmou. A equipe do programa teve autorização de filmar o ritual. Fiquei estarrecido. Enquanto criava no centro de um pentagrama com a ajuda do bruxo uma boneca (foto) que simbolizava a pobre mulher, cravava-lhe dezenas de alfinetes, a punha num caixão e jogava terra de cemitério e sangue de um cadáver em cima, Rosa pronunciava montes de maldições contra a vida da mulher, literalmente pedindo à “Santa Morte” que destruísse a vida dela. Em seus olhos via-se o prazer de fazer o mal a outro ser humano. Ao final, ela demonstrava nítida satisfação pelo que fizera. Chegou a comemorar. Agora sim podia dormir em paz: tinha praticado a mais diabólica vingança.

 Não tive como não refletir  profundamente após assistir a esses dois documentários. De um lado estava Nim, o chimpanzé extremamente perdoador. Do outro, Rosa, o ser humano que tudo o que queria era se vingar. Fiquei me perguntando se admirava mais o macaco ou aquela criatura feita à imagem e semelhança de Deus. Tive de reconhecer que foi o animal quem ganhou meu respeito.

O que está acontecendo com a humanidade? Por que estamos assim? Onde está o exemplo dos cristãos no que tange ao perdão, algo basilar dentro de nossa fé e tão ausente da nossa prática? Será que estamos tão envolvidos com práticas de culto e ativismo eclesiástico que esquecemos da essência do Evangelho? Louvamos, levantamos as mãos, damos a paz do Senhor com nossa melhor cara de santo mas da porta da igreja para fora somos impiedosos e malignos? Será que entendemos direito o Evangelho?

Sugiro que você leia atentamente as duas passagens bíblicas que reproduzo a seguir. Pois, de tanto ler o mesmo trecho das Escrituras, muitas vezes as palavras passam despercebidas por nossos olhos e não ganham consequência em nossa vida. Isso é normal, acontece com todos nós. Mas em se tratando das Escrituras, temos de aprender a transformar o texto em vida. Então faço uma proposta: tente ler devagar, frase a frase, captando o sentido do que é dito com atenção, como se fosse a primeira vez que as estivesse lendo:

Em Lucas 6.27-38,  lemos palavras dos lábios de Jesus de Nazaré:

“Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam,  abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam. Se alguém lhe bater numa face, ofereça-lhe também a outra. Se alguém lhe tirar a capa, não o impeça de tirar-lhe a túnica. Dê a todo o que lhe pedir, e se alguém tirar o que pertence a você, não lhe exija que o devolva.  Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles.  

Que mérito vocês terão, se amarem aos que os amam? Até os ‘pecadores’ amam aos que os amam.  E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que são bons para com vocês? Até os ‘pecadores’ agem assim.  (… )

Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso. Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados. Perdoem, e serão perdoados. Dêem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. Pois a medida que usarem, também será usada para medir vocês“.

Nos últimos meses decidi reler o Novo Testamento, desta vez na Nova Versão Internacional. E confesso que, ao ler essa última frase, fiquei abalado. Pois tive uma compreensão inédita sobre ela que me atravessou como uma corrente de alta voltagem: no dia em que estivermos face a face com o Criador, seremos tratados por Ele da exata mesma forma com que tratamos o próximo. No contexto, isso fala de quanta misericórdia usamos, de como julgamos, se condenamos ou se perdoamos. É nada menos do que o “…e ao próximo como a mim mesmo”. Li, meditei e vi o quão distante estou do ideal de Cristo. E você?

Outra passagem que reforça essa e que tenho lido diariamente para tentar me lembrar sempre e viver conforme ela ensina é Romanos 12.14-21:

“Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem.  Alegrem-se com os que se alegram; chorem com os que choram. Tenham uma mesma atitude uns para com os outros. (…)   Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor.  Pelo contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem.”

Retribuir o mal com o bem: essa é a vontade do Senhor para mim e para você. E esse é o termômetro que será usado no grande e terrível dia em que estaremos diante do trono do Altíssimo e teremos de prestar contas de tudo o que fizemos e dissemos. E, enquanto nos resta tempo, temos de decidir se vamos agir como chimpanzés ou como seres humanos.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício

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