Apologética

Leandro Quadros e a predestinação satânica

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Por Clóvis Gonçalves

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Leandro Quadros já disse João Calvino foi um “honesto, inteligente homem usado por Deus”, aliás “um dos maiores reformadores que contribuíram de maneira significativa para o pensamento cristão”. Quanto aos seus ensinos, que “não há motivo para considerá-lo herético”. Sobre a origem da doutrina da predestinação, diz que “quando atribuí os cinco pontos da predestinação a João Calvino, quis deixar claro que os mesmos se originam na ideia dele”. Agora, porém, ele conclui que “a predestinação calvinista é em si diabólica… é demoníaca e não faz parte da Bíblia”.

Sua conclusão foi resposta a uma pessoa que perguntou “como analisaremos os versículos de Efésios 1:4-5 e Romanos 8:30, sobre a eleição e a predestinação?” (vídeo aqui, a pergunta está no tempo 50:00). Por alguma razão ele achou que ajudaria no entendimento das passagens atacar como diabólica uma doutrina atribui a um homem de Deus. Por ora, deixarei de lado a questão da origem satânica da predestinação e me limitarei a analisar a resposta que o professor deu e tentar apresentar uma resposta alternativa às duas passagens.

Tirando o ataque à “predestinação calvinista”, após ler Ef 1:4-5 Leandro reconhece que “aqui fala que Deus, realmente, de antemão nos predestinou”. Mas emenda: “Ele predestinou que todos, obviamente os que aceitassem a Cristo, fossem santos e repreensíveis em sua presença”. Primeiro, de que parte do texto lido ele tirou “os que aceitassem a Cristo”? Ele empurrou isso para dentro do texto, não estava lá. Segundo, se Deus predestinou que somente os que aceitassem a Cristo seriam salvos, a conclusão lógica é que Ele não predestinou a todos, mas apenas a alguns. Usando suas palavras, “Deus foi com a cara” de quem Ele viu que iria aceitar a Jesus e os predestinou. E terceiro, isto contradiz o que ele afirma em outro lugar, que Deus predestinou a todas as pessoas para a salvação.

Então ele vai para Romanos 8:28-30, que ele considera “um resumo do plano de salvação”. Depois de ler o verso 29, ele diz que Deus “predestinou que os que aceitarem a Cristo sejam a imagem de Seu Filho”. Novamente, o elemento “aceitar a Cristo” é imposto ao texto, não extraído dele, pois todas as ações mencionadas ali são efetivadas por Deus. Depois, mais enfático diz que “Deus não predestina uma pessoa em si para ir para o céu ou para o inferno”. Ou seja, a passagem não tem caráter soteriológico. Mas ele não tinha dito que a passagem era “um resumo do plano de salvação”? Agora diz que tudo o que “Ele predestina é o tipo de caráter que a pessoa que vai para o céu precisa ter aqui na terra”. Diferentemente do que ele afirma, quem lê a passagem descobre não o que uma pessoa precisa fazer ou ter, mas o que Deus faz para e nas pessoas que Ele conheceu de antemão. Em resumo, a resposta do professor é confusa e inconsistente.

Respondendo ao consulente do Leandro Quadros, o que as duas passagens dizem exatamente sobre eleição e predestinação? Efésio 1:4 diz que Deus “nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”. A voz média de “nos escolheu” indica que Deus nos escolheu por e para Ele mesmo, portanto, não traz a ideia de escolher baseado em algo visto no objeto da escolha. “Para” indica o propósito para o qual fomos escolhidos, não a causa de nossa escolha. “Sermos santos” significa que Deus nos “escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio” (Dt 14.2), como a Israel outrora. E “irrepreensíveis perante ele” significa que o eleito comparecerá “isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus” (1Ts 3.13). Noutras palavras, “antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa” (Ef 1.4, NTLH). Se isto não é eleição para a salvação, não sei mais o que seja.

Paulo continua dizendo que “em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5). Predestinar significa “decidir de antemão”, “predeterminar”, “destinar antecipadamente”. O quando é “antes da fundação do mundo”, referido no verso anterior. Os objetos da predestinação não são coisas, como a fé ou o caráter, mas pessoas: “nos predestinou”. “Para Ele, para a adoção de filhos” indica o propósito, quer dizer que estamos de antemão destinados a nos tornar filhos de Deus. Isto se dá “por meio de Jesus Cristo”, que é o agente da adoção, pois “Deus enviou seu Filho… a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4:4-5). E a predestinação para a vida foi “segundo o beneplácito de sua vontade”, ou seja, “porque assim foi do teu agrado” (Mt 11.26) e não por alguma razão em nós encontrada. Numa paráfrase moderna, “por causa do seu amor por nós, Deus já havia resolvido que nos tornaria seus filhos, por meio de Jesus Cristo, pois este era o seu prazer e a sua vontade” (Ef 1:5, NTLH). Com isto concluímos que o ensino de Efésios é que Deus nos escolheu e nos predestinou soberanamente para a salvação. Nada indica que seja menos que salvação, nem que ela se deva a alguma coisa prevista em nós.

Romanos 8:30 diz “e aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. Basta que notemos, aqui, que todos os verbos tem Deus como sujeito, e não o homem. Voltando ao verso anterior, temos que “aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Note, de início, que o que é conhecido de antemão são pessoas, e não o que essas pessoas tinham ou fariam. As mesmas pessoas conhecidas, são predestinadas, com o sentido que já demos para a palavra. “Para” indica que a predestinação é “segundo o seu propósito” (Rm 8:28) que é “serem conformes à imagem de seu Filho”. Já vimos em Efésios que o propósito da predestinação é nos fazer filhos de Deus, aqui a ideia é ampliada para dizer que é nos fazer filhos de acordo com o molde, modelo ou imagem de Jesus. “A fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”, o primogênito é filho natural, os “muitos irmãos” por adoção, como explicado em Efésios.

O que expus sobre o que as duas passagens ensinam sobre eleição e predestinação é o que se pode chamar de “doutrina da predestinação calvinista”. Claro que se for conveniente a alguém, ele pode caricaturizar à vontade essa doutrina, é a tal falácia do espantalho. Mas essencialmente, ela ensina que Deus nos escolheu para a salvação e que preordenou todos os meios que nos conduziriam à fé e nos preservaria até à glória. Segundo o professor Leandro, tal interpretação é “bem diferente da predestinação bíblica”, mais que isso, é “diabólica e demoníaca”. A despeito disso, é a interpretação que leva em conta o significado verdadeiro dos termos utilizados, que atenta para as construções sintáticas e que trabalha com o que encontra no texto, sem fazer inserções de conceitos humanos tais como “aceitar a Jesus”.

Esta doutrina, posto que bíblica, é inaceitável ao homem natural. Até mesmo o nascido de novo, acostumado com o discurso humanista que coloca o homem como o ponto para o qual tudo converge, tem dificuldade em se ver como mero objeto da escolha divina, cuja existência é ser utilizado para glória Dele, sem participação decisiva nesse processo. A imagem do barro a mercê do Oleiro lhe é incômoda. Porém, é necessário afirmar o que o texto afirma, como afirma, sem artifícios que o tornem menos áspero a paladares delicados. Também para isso precisamos da graça de Deus. “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5).

Soli Deo Gloria

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