Apostolado contemporâneo Teologia

Os perigos da restauração apostólica contemporânea

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Por Ruy Marinho

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Durante séculos, os principais líderes de seitas se auto-intitularam apóstolos ou profetas, portadores de extra-revelações supostamente vindas de Deus. Foi assim com o mormonismo, com a Igreja Romana através de sua doutrina da sucessão apostólica, bem como com em várias outras seitas.

Jesus escolheu doze apóstolos, dos quais Judas se suicidou. Posteriormente, Matias veio a ser o escolhido para substituir Judas no ministério apostólico, pois o mesmo foi testemunha da ressurreição do Senhor (At 1:21-26). Depois, Paulo foi chamado pelo próprio Senhor para ser apóstolo e mesmo assim se considerava um abortivo, nascido fora de tempo por ter sido o último a ver o Senhor (1 Co 15:7-9).

Biblicamente, depois da morte do apóstolo João nunca mais ninguém na igreja primitiva foi reconhecido ou ordenado apóstolo. Não existe continuação deste ministério na Bíblia, pois Jesus foi a pedra angular e o fundamento foi posto exclusivamente pelos apóstolos e profetas (Ef 2:19-20, 4:11, 1Co 3:10-11).

Nos últimos anos, virou moda o movimento de restauração apostólica no meio evangélico. Com os seus auto-intitulados apóstolos contemporâneos, um verdadeiro império de poder e de riquezas tem surgido no Brasil e no mundo.

O grande perigo que ocorre neste movimento de restauração apostólica – além de distorções bíblicas gravíssimas, é exatamente o domínio e a monopolização do povo Cristão, impedindo que o crente creia em Deus e em sua Palavra com conhecimento e raciocínio. A ênfase que se dá aos apóstolos contemporâneos como portadores de uma “autoridade especial” é o grande perigo. As pessoas incautas são levadas a viverem involuntariamente submissas aos mesmos, bem como aos ensinamentos distorcidos e místicos que são apregoados por eles, tudo debaixo de um regime autoritarista e dominador, pois pela prática, quem irá contra um “profeta ungido” de Deus?

Estes senhores, intitulados Apóstolos e Profetas, erroneamente estão trazendo para si algo que os colocam como superiores, portadores de uma “unção especial”, pessoas intocáveis e inquestionáveis, os “ungidos de Deus”. Ninguém toca, ninguém critica, ninguém pode levantar alguma objeção contra os argumentos e ensinamentos que os mesmos colocam, pois estará correndo o risco de ser amaldiçoado, perder a salvação e ir para o inferno.

Vejam agora alguns argumentos (absurdos) utilizados pelos “defensores apostólicos” para definir o apostolado contemporâneo:

O Dr. Peter Wagner define o dom de apóstolo da seguinte forma:

O dom de apóstolo é uma habilidade especial que Deus concede a certos membros do corpo de Cristo, para assumirem e exercerem liderança sobre um certo número de igrejas com uma autoridade extraordinária em assuntos espirituais que é espontaneamente reconhecida e apreciada por estas igrejas. A palavra chave nesta definição é AUTORIDADE, pois isto nos ajuda a evitar um erro muito comum que as pessoas fazem ao confundirem o dom do apóstolo com o dom de missionário.

Outro argumento:

Igrejas orientadas por visões e valores. Lideres apostólicos vivem no futuro. Líderes tradicionais sonham com o passado, vivem no presente e tem medo do futuro, lideres apostólicos apreciam o passado, vivem no presente e sonham com o futuro.

O elemento mais radical da reforma apostólica:

A quantidade de autoridade espiritual delegada pelo Espírito Santo para indivíduos.

Bill Hamon escreve: Apóstolos possuem uma autoridade delegada para representar o reino de Deus de forma governamental e não de forma religiosa, com autoridade hierárquica concedida por homens, mas uma autoridade espiritual concedida por Deus. […]finalmente nos anos 90 se inicia a restauração do dom apostólico.

David Cannistraci diz: Como que o inimigo tem pavor do apóstolo, como que ele teme a completa restauração dos ministérios na igreja. A unção da igreja apostólica do novo testamento restaurada em nossos dias significará um tremendo impacto no reino das trevas. Apóstolos abrem portas espirituais para o evangelho.

Apóstolos possuem uma extraordinária autoridade espiritual, e ao contrário de homens que se auto-nomeiam apóstolos, a iniciativa de todo o processo se inicia com Deus, da mesma forma que isto acontece com qualquer outro dom espiritual.

Fonte dos “textos apostólicos contemporâneos”:http://www.atosdois.com.br

Após ler os argumentos acima, podemos ver que a restauração apostólica se resume exatamente em pregar uma teologia distorcida, onde o enfoque principal é o “domínio” dos apóstolos e profetas modernos perante a igreja, como se fosse uma “autoridade espiritual de governo”. Logo, superior aos demais crentes membros do Corpo de Cristo. Uma hierarquia eclesiástica sem fundamentação bíblica.

Estes apóstolos criam um “mecanismo de auto-defesa” para os que se opõem aos ensinamentos distorcidos. Além de colocar a categoria deles em um nível especial de “unção” – com isso utilizando o clichê “não toqueis nos ungidos de Deus” – colocam que os opositores da restauração apostólica estão influenciados pelo diabo.

Para justificar esta “restauração” dos ministérios de apóstolos e profetas, os defensores desta prática utilizam de algumas passagens bíblicas para defender suas prerrogativas. Porém, através de uma análise exegética honesta e profunda, podemos ver o equívoco que ocorre em tais interpretações. É o que eu pretendo apresentar neste artigo.

Uma dessas interpretações equivocadas e absurdas podemos verificar em um site de um apóstolo contemporâneo de nosso tempo. Vejam o que foi colocado pelo mesmo:

Nasceu a Geração dos Sonhos e precisamos aproveitar o tempo da visitação. Nossa Geração é privilegiada, pois os céus das nações estão abertos para o maior mover da história. Temos crido que esta é a hora mais propensa para mergulharmos no avivamento histórico e cheio de revelação. Nestes dias, nascerá a Geração Júnia, Apóstolas de Avivamento, para que possamos entender que tanto homem quanto mulheres têm legados de autoridade, para selarem uma geração com unção e vida de Deus.

Somos uma geração de privilégio mesmo, pois tantos líderes poderiam ter esta revelação, pois estavam à frente do seu século, e esses líderes não conseguiram romper os paradigmas que assaltaram a sua geração e não puderam consolidar uma multidão de Apóstolos contemporâneos tanto homem quanto mulheres.[…]

[…] O manto Apostólico é o direito de caminhar respaldado e reconhecido no mundo espiritual e trazer os resultados de uma colheita extraordinária, pois somos a geração da promessa e devemos velar pela palavra que já nos foi liberada: UMA COLHEITA ALÉM DOS LIMITES.[…]

[…] O Manto Apostólico é um sinal da cobertura, da vida salutar que estaremos palmilhando, pois desponta uma Geração dotada de autoridade, que nos levará a níveis maiores e nos colocará em lugares altos, uma Geração que recebeu do Senhor Jesus o legado de ser treinada na Lealdade, Fidelidade e Honra, para poder construir um novo tempo cheio de resoluções. Esta Geração pergunta e nós respondemos; somos a resposta desta Geração.[…]

Apóstolo Renê Terra Nova
Ministério Internacional da Restauração Manaus/AM
Fonte: MIR

Vamos analisar as afirmações absurdas desse apóstolo contemporâneo.

Segundo René, eles fazem parte de uma “geração privilegiada”, pois até então ninguém teve o “privilégio” de receber as extra-revelações específicas para o “maior mover da história”. Uma destas revelações seria o surgimento de “apóstolas contemporâneas”, a tal geração Júnia.

De todas estas aberrações teológicas, o que é mais difícil de engolir é que René utiliza um único texto bíblico (Rm 16:7) para justificar o tal apostolado feminino. O pior é que o texto em si é bastante obscuro, sendo assim, impossível de fornecer margem de fundamentação para alguma doutrina. Sem falar que o apostolado verdadeiro foi restrito a igreja primitiva e que cessou após a morte do último apóstolo (João). Clique aqui para maiores detalhes.

Vejamos o quão absurdo é esta afirmação de “geração Júnia de apóstolas”. O Pr. Afonso Martins preparou uma ótima análise exegética da passagem em questão, vejamos:

“Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim”. (Rm 16.7).

Os defensores desta tese argumentam que Júnias é um nome feminino, e que a mulher com este nome era uma “apóstola”, em pé de igualdade com Andrônico. Do ponto de vista dos defensores da ordenação feminina, a passagem prova que Paulo reconhecia que uma mulher pode exercer uma posição de autoridade sobre homens na Igreja apostólica. E se elas eram admitidas ao apostolado, obviamente o eram a cargos eclesiásticos, apóstolas, diaconisas e pastorado. Mas não é tão simples assim. Há várias questões relacionadas com a interpretação deste texto. A primeira questão depende da solução de um problema textual. Existem três variantes do nome Júnias nos manuscritos gregos de Romanos 16.7. As duas primeiras divergem quanto à acentuação da palavra Júnias no grego: (1) Iounia=n, que seria o acusativo de Iounia=j, (Júnia) masculino; (2) Iouni/an, que seria o acusativo de Iouni/a, (Júnia) feminino. A terceira variante é Iouli/an, que corresponderia ao feminino Júlia.

A segunda questão depende da interpretação da expressão “notável entre os apóstolos”. Significa que Júnias era um dos apóstolos, já antes de Paulo, e um apóstolo notável? Ou apenas que os apóstolos, antes de Paulo, tinham Júnias em alta conta? As questões mencionadas acima são complexas, e sem respostas definitivas. Examinemos uma a uma.

Júnias é masculino ou feminino?

A variante melhor atestada, segundo o texto grego da UBS, 4a. edição (e de Nestle-Aland, 27a. edição), é Iounia=n , acusativo de Júnia, masculino (atestada pelos manuscritos ) A B* C D* F G P, embora sem acentos). A variante (Júlia) é fracamente atestada, aparecendo apenas no p46 e em algumas versões antigas.

Numa pesquisa feita por computador nos escritos gregos existentes desde a época de Homero (século 9 A.C.) até o século 5 D.C. foram achadas apenas três ocorrências do nome Júnias, além de Romanos 16.7. Plutarco cita uma irmã de Brutus, chamada Júnias; Epifânio, o bispo de Salamina em Chipre, menciona Júnias de Romanos 16.7 como sendo um homem que veio a ocupar o bispado de Apaméia da Síria; e João Crisóstomo se refere a Júnias de Romanos 16.7 como sendo uma irmã notável até mesmo aos olhos dos apóstolos. Os resultados são inconclusivos. Parece evidente que Júnias era nome tanto de homem quanto de mulher no período neotestamentário. O problema é que não sabemos em que gênero Paulo o usou em Romanos 16.7. Isto explica o surgimento de variantes divergindo na acentuação, e o surgimento da variante , que é claramente uma tentativa de resolver a ambigüidade. Se tivermos de tomar uma decisão, devemos dar mais peso à palavra de Epifânio, pois ele sabe mais sobre Júnias do que Crisóstomo, já que informa que Júnias se tornou bispo de Apaméia. Concorda com isto o testemunho de Orígenes (morto em 252 D.C.), que num comentário em latim à carta aos Romanos se refere a Júnias no masculino. Nomes gregos masculinos terminando em -aj não são incomuns, mesmo no Novo Testamento: André (Andre/aj , Mt 10.2), Elias (Eli/aj, Mt 11.14) e Zacarias (Zaxari/aj, Lc 1.5). Para alguns comentaristas, Júnias é a abreviação de Junianius, um nome masculino — mas não há evidências claras disto. A conclusão é que não podemos saber com certeza se Júnias era uma mulher — mais provavelmente era um homem. É por isto que a maioria das traduções modernas, onde possível, traduzem Júnias como masculino (e não Júnia, feminino).

Era Júnias um(a) apóstolo(a)?

Mais uma vez perguntamos, é possível termos uma resposta definida para a pergunta “era Júnias um(a) apóstolo(a)?” Gramaticalmente, a expressão “os quais são notáveis entre os apóstolos” (oitines eisin episêmoi en tois apostolois) tanto pode indicar que Andrônico e Júnias eram apóstolos, quanto que eram tidos em alta conta pelos apóstolos existentes. E mesmo que aceitemos que eram apóstolos, ainda resta o fato de que a palavra apóstolo no Novo Testamento é usada, não somente para os Doze, para Paulo, e para algumas pessoas associadas a ele, como Barnabé, Silas e Timóteo (cf. At 14.14; 1 Ts 2.6), mas para mensageiros e enviados (este é o sentido primário de apostolois) de igrejas locais, como Epafrodito (Fp 2.25) e uns irmãos mencionados em 2 Coríntios 8.23. Estes não parecem exercer governo ou autoridade sobre as igrejas locais, eram simplesmente enviados por elas. Portanto, se Andrônico e Júnias eram apóstolos, deveriam pertencer a este tipo de mensageiros das igrejas locais, com um ministério itinerante. Estes “apóstolos” não tinham autoridade de governo em igrejas locais; antes, eram enviados por elas para desempenhar diferentes funções como representantes ou emissários.

Em última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos 16.7, que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por Paulo, e que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se pode afirmar com segurança que era uma mulher, nem que era uma “apóstola”, e muito menos uma como os Doze ou Paulo. A passagem, portanto, não serve como evidência bíblica para a ordenação feminina no período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato de que Jesus não escolheu mulheres para serem apóstolos. Não há nenhuma referência indisputável a uma “apóstola” no Novo Testamento.

Fonte da análise sobre Júnias: www.cacp.org.br

Portanto, esse negócio de “geração Júnia” para o surgimento de apóstolas contemporâneas não existe, é a mais pura invencionisse de pessoas que não tem conhecimento bíblico e que só interpretam a Bíblia da maneira que mais convém para seus próprios umbigos.

Neste artigo, minha intenção foi mostrar somente a “ponta do iceberg”. Existem muito mais absurdos a serem refutados.

Cuidado com esses “apóstolos contemporâneos” que dizem ter revelações exclusivas, dadas por Deus. O Canon Bíblico já foi fechado, a Bíblia já está completa e Deus não autorizou a ninguém ficar acrescentando novas revelações extrabíblicas por aí.

Soli Deo Gloria!

Ruy Marinho
Fonte: Blog Bereianos

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