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Massacre em Suzano: até onde jogos violentos podem influenciar a mente humana?

Massacre em Suzano: até onde jogos violentos podem influenciar a mente humana?
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Autoridades políticas, pastores e psicólogos alertaram famílias sobre o perigo dos jogos violentos sobre os jovens, adolescentes e crianças.

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O ataque que causou 10 mortes e deixou cerca de 17 feridos na última quarta-feira (13), na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), tem reacendido um debate sobre a influência dos jogos violentos sobre crianças, adolescentes, jovens e até adultos. Além disso, o ambiente familiar no qual os jovens foram criados também tem entrado em questão.

Um adolescente de 17 anos e um jovem de 25 entraram na escola, armados, encapuzados, vestindo roupas pretas e um deles usava até uma máscara de caveira, como o de um dos personagens de um dos jogos. Após matarem alunos e funcionários da escola e ferirem diversos outros, um dos assassinos matou seu parceiro e depois cometeu suicídio.

Em resposta a questionamentos sobre o caso no mesmo dia do ataque, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, destacou sua preocupação com o fato de os jogos violentos terem se tornado um vício para os jovens.

“Estou muito triste com essa situação. Temos que entender o porquê de isso estar acontecendo. Essas coisas não aconteciam no Brasil. Na minha opinião (…) vemos essa garotada viciada em videogames (…) videogames violentos. Tenho netos e os vejo muitas vezes mergulhados nisso aí. Quando eu era criança, jogava bola, soltava pipa. A gente não vê mais essas coisas. Lamento profundamente tudo o que ocorreu”, disse o vice, ao ser entrevistado no Palácio do Planalto.

Mourão também destacou o problema que é a ausência dos pais na criação dos filhos, muitas vezes causada pela intensa rotina de trabalho e apontou a necessidade de mais escolas em tempo integral.

“Os pais e mães são obrigados a trabalhar por exigência da sociedade moderna, nos faltam escolas em tempo integral (…) Eu tive oportunidade de, na minha adolescência, morar dois anos nos Estados Unidos, na década de 1960. A aula era das 9 às 15h, almoçava no colégio, tinha educação física, uma porção de coisa”, complementou.

O massacre de Suzano pergunta novamente se a violência das telas pode se tornar uma realidade nas nossas escolas. A convivência intensa e constante com ilusões virtuais, pode se tornar a ponte por onde ela chega ao mundo real.

Games e satanismo

A influência dos jogos sobre jovens e adolescentes também foi colocada em questão pelo pastor e escritor Ubirajara Crespo, como algo que vai além do psicológico, mas também passa pelo âmbito espiritual.

“Os super heróis fazem crianças ainda em formação misturar heroísmo com a violência e morte. Nossos animais de estimação parecem encarnar mais profundamente o antigo conceito do que é um ser humano”, afirmou o pastor em um post na redes sociais.

“Será que teremos de colocar coleiras em nossos filhos? Acho melhor deixá-los sob um sistema de liberdade vigiada. Do ponto de vista bíblico, o diabo odeia a humanidade e quer acabar com todas as nossas semelhanças com Deus”, acrescentou.

De fato, na contracapa de um de seus cadernos, Guilherme (um dos assassinos) escreveu: “Quando caminhando em território aberto, Não aborreça ninguém. Se alguém lhe aborrecer, peça-o para parar. Se ele não parar, Destrua-o”.

Segundo o adolescente, o trecho por ele citado teria como fonte a “bíblia satânica”.


Caderno do adolescente Guilherme tinha citação da “bíblia satânica”. (Foto:Talita Marchao/UOL)

Junção de fatores

Segundo a psicóloga especializada em Direitos Humanos, Marisa Lobo, a violência pode ser resultado de diversos tipos de experiência do indivíduo.

“O Ser humano tem a bondade e a maldade dentro de si que são alimentados e cultivados pelo meio ambiente, para alguns uma vida dura, um bullying sofrido, traumas por exemplo pode se tornar um combustível para resiliência, para o sucesso positivo, mas para outros combustível para tragédia como a que aconteceu em Suzano e em outras parecidas pelo mundo”, explicou Marisa, falando com exclusividade para o Guiame.

A psicóloga destacou que, dependendo da estrutura psicológica do indivíduo, como por exemplo em alguém afetado por algum tipo de fanatismo, tanto o excesso de jogos como filmes violentos, podem ter um efeito devastador.

“O fanatismo é cego e faz de você um alienado massa de manobra, você vive para realizar o que esse fanatismo te induz. Com Jogos e filmes de séries por exemplo é a mesma coisa, eles são capazes de mudar até mesmo sua comunicação cerebral e te levar a um surto a ponto de não saber o que é realidade ou ficção. É um vício que pode ser identificado e deve ser tratado. Uma pessoa viciada em jogos de conteúdo mortal violenta pode e vai influenciar muitos humanos. A diferença é que a maioria fica na internet, tem ainda um controle mental que os impede de partir para realidade, mas alguns vão fazer essa confusão fatal e em um surto esquizofrênico podem fazer do mundo virtual sua realidade”, alertou.

Marisa também destacou que o efeito dos jogos pode ser potencializado, quando se alinha com outros fatores, como bullying e outros tipos de abusos.

“O meio pode desencadear esse desejo de vingança, por exemplo crianças que sofrem bullying podem acumular sentimentos de raiva e vingança, podem se tornar adultos violentos, mas é apenas um fator dentre tanto outros que podem estar correlacionados, como família desajustadas, violência doméstica, violência sexual, uso de drogas e a preexistência de um transtorno psicológico. Todos eles podem resultar em um surto, que nesse caso foi desencadeado por extrema exposição a um mundo virtual violento”, explicou.

“Neurônios-espelho”

Já a psicóloga e terapeuta familiar, Lia Honório, também em entrevista exclusiva ao Guiame, chamou a atenção para a reação que a mente humana pode ter à exposição excessiva a um contexto como o de jogos violentos.

“A neurologia nos ajuda a entender o quanto essa ligação é direta. Os neurocientistas descobriram recentemente a existência dos neurônios espelho. Então, o nosso cérebro tem células especializadas em copiar comportamentos alheios. Então, é por isso que se um ser humano for criado em meio a animais, não desenvolve comportamento humano, da mesma forma que nós humanos copiamos outros humanos. Desde muito cedo, ainda bebê, o ser humano está pronto a copiar o comportamento dos pais ou de alguém que esteja pronto a cuidar dele”, afirmou.

Continuando sua linha de raciocínio, a psicóloga fez menção a um experimento científico que o neurologista, neuropsiquiatra e autor, Richard Restak, expõe em seu livro “Seu Cérebro Nunca Envelhece”. O experimento mostrou que pessoas viam alguém fazendo qualquer ato tinham ativadas em suas mentes as mesmas áreas que eram ativadas quando elas mesmas praticavam aquele ato.

“Quando você assiste pessoas tendo determinado comportamento, você ativa as mesmas áreas do cérebro que são ativadas como se você estivesse fazendo aquilo. Então, de certa forma, quando você se envolve com jogos violentos, você ativa o seu cérebro como se você estivesse de fato sendo violento”, alertou.

Contágio emocional e o papel da família

Lia também lembrou que um fator conhecido como contágio emocional pode ajudar a explicar parte da influência da violência na ficção sobre a mente humana.

“Um psicólogo chamado Steven Stosny foi o primeiro a falar em contágio emocional, afirmando o seguinte: ‘A raiva e o ressentimento são as mais contagiosas de todas as emoções. Se estiver perto de uma pessoa ressentida ou furiosa, você mesmo vai ficar ressentido ou furioso’. A violência está muito atrelada a comportamentos de raiva. Então, é muito natural que isso seja contagioso, repercutido, que isso se torne um ato de repetição”, destacou.

A psicóloga destacou que ao considerar o fator do contágio emocional, a família tem um papel importante na prevenção dos efeitos da exposição do jovens à violência em jogos e filmes.

“Se eu me envolvo em um contágio emocional de sentimentos negativos, como raiva, originados de violência ou coisas do tipo, ativo determinadas áreas do meu cérebro e me simulo em situações como esta. Agora, se no meu ambiente familiar também tenho um contraponto, se também sou contagiada por sentimentos de amor, pertencimento, afeto concreto, consistente, o meu cérebro também vivencia a simulação de outros comportamentos, que eu também tendo a imitar”, explicou.

“Então, se um adolescente não faz parte de um lar onde há um contraponto a esse contágio emocional negativo, ele vai ter uma vulnerabilidade maior em relação a esse comportamento. De toda forma, o quanto mais os pais puderem evitar o contato de seus filhos com esses jogos, mais benefícios esse adolescente vai ter, porque eles vão precisar lidar menos com o contágio emocional negativo”, finalizou.

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