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Martinho Lutero era antissemita?

Martinho Lutero era antissemita?
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Dr. Michael Brown

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Ao nos aproximarmos do aniversário de 500 anos da Reforma protestante, o foco de novo será o líder desse movimento, Martinho Lutero. Que tipo de homem ele realmente era? Mais especificamente, que tipo de cristão ele era?

Numa conferência recente dos Ministérios Ligonier de R. C. Sproul, Stephen Nichols e W. Robert Godfrey debateram “se Martinho Lutero era culpado de antissemitismo,” e há boa razão para levantar essa pergunta.

Como Nichols apontou acertadamente, em 1523 Lutero estendeu a mão com bondade e humildade ao povo judeu, denunciando como a Igreja Católica os havia tratado até então, na esperança de que muitos se tornassem cristãos. Vinte anos depois, quando isso não aconteceu, e quando Lutero, agora velho e doente, havia tido acesso a literatura blasfema contra Jesus escrita por judeus em gerações passadas, ele escreveu seu infame documento “Com relação aos Judeus e Suas Mentiras.”

Neste minilivro, ele disse às autoridades alemãs como lidar com “essa raça maldita e rejeitada de judeus.”

Primeiro, as sinagogas deles devem ser queimadas… Segundo, os lares deles devem ser de forma semelhante demolidos e destruídos… Terceiro, eles devem ser privados de seus livros de orações e Talmudes… Quarto, seus rabinos devem ser proibidos sob ameaça de morte de ensinar qualquer coisa mais… Quinto, privilégios de passaporte e viagens devem ser absolutamente proibidos aos judeus… Sexto, eles devem ser impedidos de usura [cobrar juros sobre empréstimos]… Sétimo, que os judeus e judias fortes e jovens trabalhem no campo, colhendo, cortando árvores e lenha, cavando e fazendo roupas e que eles ganhem seu sustento com o suor de seus narizes… Precisamos remover esses magricelas perversamente preguiçosos de nosso sistema… Portanto, fora com eles…

Para resumir, queridas autoridades que têm judeus nas regiões administradas por vocês, se esse meu conselho não lhes servir, então achem um melhor para que vocês e nós possamos todos ser livres desse peso demoníaco insuportável — os judeus.

Sim, tudo isso foi escrito por Martinho Lutero. (Segure-se que vem mais.)

Desse documento desprezível, Nichols disse que “Lutero libera sua retórica contra os judeus e é muito forte em sua retórica.” Muito forte? Eu chamaria isso de atenuação grosseira.

Nichols continua:

Agora precisamos dizer que ele era igualitário ao cometer ofensas contra todos igualmente. Não era só — essa retórica não era reservada apenas — para os judeus, ele usava a mesma retórica para os papistas, os anabatistas, os cristãos nominais, que ele usava para os judeus. Mas ele estava errado. Ele falava de forma grosseira, e acho que ele abusava de sua influência que ele tinha em falar de forma grosseira. E assim, precisamos dizer que Lutero estava errado nisso. Mas isso não era necessariamente antissemitismo, que é realmente um fenômeno do século XX.

Mais uma vez, preciso fazer uma exceção a essas palavras, que minimizam o horror do que Lutero escreveu.

Tragicamente, Adolf Hitler achava que Lutero era um gênio que compreendeu como os judeus eram perigosos. E a data que muitos historiadores marcam como o início do Holocausto, 9 de novembro de 1938, foi o dia em que Hitler colocou o conselho de Lutero em prática, incendiando e vandalizando sinagogas, lojas e lares judeus.

Nessa perspectiva, não posso concordar com Nichols em suas palavras, “acho que ele abusava de sua influência que ele tinha em falar de forma grosseira.” Isso, de novo, é uma atenuação grosseira, independente de como a retórica de Lutero era horrível contra outros grupos e independente de como a retórica da época pode ter sido vulgar. Para um líder cristão, tais escritos devem ser renunciados nos termos mais fortes possíveis, até com lágrimas e gemidos.

Robert Godfrey, o outro debatedor do Ligonier, comentou:

Apenas para acrescentar mais uma coisa… a coisinha que precisa ser acrescentada é que Lutero, em toda a sua vida, ansiava que os judeus se convertessem e se juntassem à igreja. Hitler nunca quis que os judeus se juntassem ao partido nazista. Essa é a diferença entre ser antissemita e ser anti-judeu. Lutero não se opunha aos judeus por causa do sangue deles. Ele se opunha aos judeus por causa da religião deles. E ele queria que eles se juntassem à igreja cristã. Se você é realmente antissemita, você é contra os judeus por causa do sangue deles e não há nada que os judeus possam fazer sobre isso. Não existe mudança que eles possam efetuar para fazer uma diferença. Você está absolutamente certo, não devemos defender a linguagem de Lutero porque é violenta contra os judeus. Não era contra um povo étnico, como você disse, mas contra uma religião à qual ele reagiu de forma tão forte.

Godfrey está certo? Sim e não. Por outro lado, a questão real era que a religião judaica (especificamente, a partir do ponto de vista de Lutero, a descrença judaica em Jesus) em oposição a ser judeu em si. Por outro lado, havia um limite obscuro entre os dois, como o historiador Eric W. Gritsch apontou em seu livro, “Martin Luther’s Antisemitism: Against His Better Judgment” (O Antissemitismo de Martinho Lutero: Contra Seu Melhor Discernimento).

Ele escreve:

Existe até mesmo um indício de racismo em Lutero quando ele comentou sobre o boato infundado de que os judeus matavam crianças cristãs. Esse crime “ainda brilha dos olhos e peles deles. Somos culpados por não matar [os judeus].” Tal declaração não pode se limitar a um contexto histórico específico. É eterna e significa “morte aos judeus,” quer seja dita por Lutero ou Adolf Hitler. Além disso, o próprio Lutero estava disposto a matar “um judeu blasfemo”: “Eu esbofetearia a face dele e, se eu pudesse, o lançaria ao chão e, em minha raiva, o furaria com minha espada.”

Assim escreveu Martinho Lutero. E pouco consolo encontro no fato de que ele escreveu sobre outros, como camponeses, em termos igualmente horrendos: “Sobre os camponeses obstinados, endurecidos e cegos, que ninguém tenha misericórdia, mas que todos, conforme sua capacidade, cortem, esfaqueiem, matem e ataquem com socos como se estivessem entre cães loucos… de modo que se possa manter a paz e a segurança, etc.”

Voltando a Lutero e os judeus, citações desse tipo tornam difícil separar seu ódio teológico aos judeus de seu ódio étnico aos judeus:

Um coração judeu é duro como pedra e ferro e não se move de forma alguma… em resumo, eles são filhos do diabo condenados ao inferno… Não podemos nem converter a maioria dos cristãos e temos de nos satisfazer com um pequeno número; é pois menos possível ainda converter esses filhos do diabo! Embora haja muitos que deduzam a noção doida a partir do capítulo 11 da Epístola aos Romanos de que todos os judeus devem se converter, isso não é dessa forma o caso. São Paulo queria dizer algo bem diferente.

Como um crente em Jesus que não é católico, tenho uma dívida para com as contribuições positivas de Lutero e reconheço a batalha infernal que ele travou contra tradições corruptas. Mas apelo para os seguidores e admiradores de Lutero hoje: Por favor, não minimizem o horror do que ele escreveu (contra os judeus e outros). Por favor, não minimizem a importância de tudo isso como um exemplo de Lutero tendo “pés de barro” (nas palavras de Nichols).

Há muito sangue nesses pés de barro — inclusive sangue judeu.

Vamos reconhecer isso com tristeza e pesar. Não fazer isso é ser menos do que honesto com a memória de Martinho Lutero.

Michael Brown é pastor judeu pentecostal americano e autor de vários livros, inclusive “Authentic Fire: A Response to John MacArthur’s Strange Fire” (Fogo Autêntico: Uma Resposta ao Fogo Estranho de John MacArthur).

Traduzido por Julio Severo do original em inglês da revista Charisma: Was Martin Luther an Anti-Semite?

Fonte: www.juliosevero.com

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