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Conservadores x Radicais: o que falta é equilíbrio

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Certa vez, Marcos Almeida disse que quem toma partido, fica partido. A priori, não entendi, mas com alguns anos de maturidade, percebi o que o artista o quis dizer. Não é sobre ter opiniões ou se posicionar sobre temas complexos, mas polarizar-se.

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Acontece que, na maioria das vez, quando defendemos um ponto, deixamos o outro por completo. Se cobrimos a cabeça, descobrimos os pés e talvez esse seja um dos maiores problemas de tomar lados, partidos, opiniões: sempre abrimos mão do equilíbrio. O que quero falar hoje é baseado no artigo The Conservative Radical, de John Stott.

 

Nos seus últimos anos de contribuição teológica e filosófica, J. Stott explorou abordagens que poucas vezes são estudadas pela grande comunidade evangélica, como a polarização entre formas de compreensão teológica, racismo e aquecimento global. Nesse artigo, em especial, ele diferencia as duas “espécies” a serem tratadas.

 

Afinal, como se caracterizam os conservadores e os radicais?

 

Conservadores

Aqui, estamos nos referindo a pessoas que querem conservar ou preservar o passado; indivíduos completamente resistentes à mudanças.

 

Radicais

Indivíduos que questionam o que foi socialmente herdado e que se organizam por mudanças.

 

Todo cristão deve ser conservador

 

Pela forma que fomos construídos socialmente, podemos nos identificar mais com um do que com o outro, mas, na verdade, deveríamos ter um pé em um campo e um pé no outro.

 

“Todo cristão deveria ser conservador porque a igreja é chamada por Deus para conservar sua revelação, para guardá-la e apresentá-la ao mundo. (1 Tm 6:20; 2 Tm 1:14). A tarefa da igreja não é continuar inventando novos evangelhos, novas teologias, novas moralidades ou novos cristianismos, mas guardar com fidelidade o único e eterno evangelho.”*

 

Nesse sentido, John Stott quer dizer que ser conservador é uma virtude.

 

Entretanto, muitos evangélicos não limitam o conservadorismo à concepção teológica, mas a extrapolam em seu temperamento. São conservadores quanto a forma de pensar, quanto ao estilo de vida, a forma de vestir, ao corte de cabelo e em tudo que você possa imaginar.

 

São eles que apontam o dedo para julgar e dizer que isso ou aquilo é pecado; que não pode ser tatuado; que não pode usar calça; que não pode usar saia; que mulheres não devem trabalhar… Questões que mais separam que agregam.

Para eles, tudo é tão estático e concreto que a mudança provoca.

 

Todo cristão deve ser radical

 

Em contrapartida, os radicais questionam o Establishment – o tradicional – e não prestam ode às tradições e tão pouco às convenções; são inovadores e questionadores por natureza. Na maioria da vezes, eles incomodam porque perguntam. Na maioria das vez, o “porque sempre fizemos assim, continuará assim” não atende.

 

Antes que você vincule esse comportamento aos jovens, pense que Jesus Cristo foi, em certa medida, um radical. Para os judeus, inclusive.

 

Na verdade, Cristo construiu uma ponte entre os dois caminhos. O que antes levava à intolerância, agora encontra o equilíbrio. Para John Stott “não há dúvida de que Jesus era conservador em sua atitude para com as Escrituras. “A Escritura não pode ser quebrada”, disse ele. “Eu não vim abolir a lei e os profetas, mas cumpri-los.” E novamente “nem um jota, nem um ponto, passará da lei até que tudo seja cumprido” (João 10:35; Mt 5:17, 18). Uma das principais queixas de Jesus sobre os líderes judeus contemporâneos dizia respeito ao seu desrespeito e falta de submissão às Escrituras do Antigo Testamento.

 

Mas Jesus também foi radical. Ele era um crítico agudo do establishment judaico, não apenas por causa de sua insuficiente lealdade à Palavra de Deus, mas também por causa de sua lealdade exagerada às suas próprias tradições. Jesus teve a coragem de varrer séculos de tradição herdada (“as tradições dos anciãos”), a fim de que a própria palavra de Deus pudesse novamente ser vista e obedecida. Ele insistiu em cuidar daqueles que a sociedade desprezava.

 

Jesus é uma combinação do que há de melhor no radical e no conservador

 

Todos nós precisamos definir com maior clareza a diferença entre o que é bíblico e o que é cultura. As escrituras são eternas e não devem ser mudadas, mas a cultura é transitória e é moldada de acordo com cada particularidade social.

 

Encontrar equilíbrio entre os mandamentos bíblicos e a vida que corre no mundo é um dos maiores desafios da modernidade, mas é possível vencê-lo com equilíbrio e sobriedade. O célebre teólogo deixa um caminho: os cristãos, que dizem que desejam viver sob a autoridade da Palavra de Deus, devem sujeitar sua própria cultura contemporânea ao escrutínio bíblico. Só assim, tomaremos partido sem ficarmos partidos!

* Disponível em:<https://sojo.net/articles/conservative-radical-article-john-stott>. Tradução nossa.

Fonte: Hélio Barros Leite

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