Perguntas Sobre Deus

CAPÍTULO 01 – Primavera da Alma

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 “Eu e o Pai somos um.” – João 10.30

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O suor caiu do rosto de Peter von Gleiserbaum uma, duas, três vezes. O rosto afogueado não permitia esconder o fato que havia permanecido durante toda a manhã, acompanhando a manutenção da bomba d’água principal da barragem. Seu encarregado acompanhava dois eletricistas e um mecânico, todos se esforçando para suprimir a cavitação intermitente. À sombra do transformador, Peter observava em silêncio, mas seus pensamentos eram denunciados pelo seu constante e insistente olhar de contemplação lançados em direção à estrada. Quando a poeira agitou o desenho sinuoso de terra batida, ele deu um sorriso e olhou para o seu encarregado, que se limitou a balançar a cabeça em sinal positivo. Patrão e comandado entenderam-se com este gesto e Peter caminhou em direção ao carro, deixando a supervisão dos serviços aos cuidados de seu capataz. Batendo o chapéu sobre a coxa direita, entrou no carro e deu a partida. A filha Aléksia estava chegando.

Estacionaram simultaneamente, sob a cobertura do pátio da fazenda. Aléksia desceu do carro e, correndo, abraçou o pai, enquanto ambos eram observados por Marie de uma janela lateral. Não se limitando a observar, a mãe desceu ao pátio e, também com um largo sorriso, abraçou a filha, enquanto os três ardiam em gostosa cumplicidade sob o sol. “Mein Gott!” – disse a mãe ainda abraçada à filha – “Já não era sem tempo!” – “- Como eu estava com saudades!”, completou.

Sentada à sala, após desfazer as malas, a família Gleiserbaum estava novamente completa. Aléksia sentada à esquerda do pai, em frente à sua mãe. Não menos pela alegria quanto mais pela natureza, limitavam-se aos olhares e sorrisos. – “E como está a faculdade?” – Peter finalmente quebrou o silêncio. – “Não vejo a hora de terminar e voltar para casa, papa”. – “Não se apresse…” – retrucou imediatamente a mãe, sem olhar para a filha, enquanto levava uma xícara de chá à boca. Terminou a frase – “…falta apenas um ano”!

– “Ai, papito! Não vejo a hora de voltar para casa!” – Aléksia parecia não ter ouvido a mãe, e intensificava a frase com um apelo emotivo nos rosto, quase voltando a ser aquela menininha de cabelos encaracolados, negros e longos, correndo pelos campos de algodão. Peter pareceu retornar fisicamente ao passado ao qual há muito o seu coração jazia preso. Estava diante de si a figura de uma menininha que, sofrendo a repreensão da mãe, corria para seus braços buscando proteção. – “Sua mãe tem razão, filha.” – Peter falou distante, fazendo um esforço para controlar a emoção, diante da grande ansiedade que sentia ao desejar que a filha retornasse para casa. Se pudesse não mais a deixaria partir. – “Falta apenas um ano, tenha paciência” Aléksia tinha o rosto arredondado do pai e os olhos azuis celestes da mãe. Um azul de um dia claríssimo e sem nuvens, translúcido, suave e pueril. Estava mais agitada que de costume, mas continuava com o mesmo traço infantil que seu pai amava e que sua mãe tanto criticava. Marie era tórrida, meio taciturna. Suas conversas, vez ou outra e sempre que podia direcioná-la, pendiam para as acaloradas discussões teológicas. Esta matriarca de personalidade distante, quase indecifrável, amava Lutero. Mas Aléksia parecia constante e insistentemente, contrariá-la. Quando abraçou uma paixão arrebatadora por Karl Barth, parecia algo proposital contra a mãe, assim entendia Marie.  Peter era sempre um metódico e controlado mediador, sempre pautado em sólidas bases Agostinianas.  Embora ditas acaloradas, os diálogos eram sempre impressionantemente distintos, possuindo espantoso nível de amabilidade. Era quase que palpável ao mesmo tempo cheio de uma firmeza alemã característica. Um expectador que a presenciasse primeira vez, pouco decifraria o fervor e o ardor do amor que os unia. Inexplicavelmente entrelaçados. Aléksia devia isso, esse caráter, aos seus pais, à formação advinda da erudição dos pais. Jamais os desrespeitava, embora muitas vezes os questionasse. Tinha-os como seus verdadeiros heróis. Lembrava-se de quando se interessou primeira vez pela expressão “Trindade”. Algo lhe inflamou a alma. Correu aos braços do pai, que a tomou no colo e, com uma sonora gargalhada ouviu a filha pedir que lhe explicasse como DEUS podia ser três e ao mesmo tempo um.

– “Mas papito,” – protestou Aléksia à sonora gargalhada de Peter – “Eu aprendi na escola que: 1 + 1 + 1 é igual a três. Como pode ser igual a um? Está errado! Não é papa?” – o cheiro do sol, do campo, da vida, mesclava-se a uma sabedoria concedida por DEUS, exalava de Peter um ar de autoridade e produzia em Aléksia a certeza de uma confiança absoluta, inextinguível no pai. Este odor lhe era agradabilíssimo e único, adicionado ao aroma suave que lhe cobriam as tranças, o cheiro das orquídeas dos jardins de Marie. Afagando a barba do pai, intensa e firmemente projetando de sua face rosada a curiosidade sobre os olhos e o sorriso do pai, aguardava a resposta. – “Não, filhinha!” – ainda sorrindo, respondeu Peter.  – “O erro está na operação, não nas parcelas. A matemática de DEUS é assim: Um elevado a três, (1)3, que é 1 x 1 x 1, e isto é igual a um! São três Pessoas em DEUS: O Pai, o Filho e o Espírito Santo, que permanece um só DEUS. Portanto DEUS, elevado à Trindade, constitui o Único, Eterno, Soberano e Verdadeiro DEUS. O Criador que nos fez à Sua imagem e semelhança. Nós também, de certa forma, somos três: corpo, alma e espírito, mas permanecemos apenas um!”.   

Enquanto os pensamentos de Peter voltavam ao presente, Aléksia o observava sorrindo, e Marie parecia contrariada. – “Peter von Gleiserbaum, você ouviu o que eu disse?”. Peter limitou-se a olhar para a mulher. – “O seu celular está tocando!” Levantou-se e foi atender o aparelho, que estava na mesa da cozinha.

Autor: Pr Miguel Maciel

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