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Israel, os palestinos e os estrangeiros na terra

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Imprimir E-mail Categoria: Estudos Bíblicos

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Por Magno Paganelli

A chamada questão da Palestina ou o conflito entre Israel e Palestina já dura décadas. Muito antes de Israel ser oficialmente declarado Estado independente, com o anúncio feito na tarde de 14 de maio de 1948 por Davi Ben Guryon,[1] já havia ocorrência de conflitos entre judeus e os palestinos que ocupavam algumas regiões naquela terra.

Uma das questões relevantes sobre o milênio é que naquele período as profecias não cumpridas, principalmente acerca de Israel, serão realizadas. Dentre elas está a que diz respeito à promessa de Deus ao patriarca Abraão. É necessário o retorno de Israel para o centro do que chamaria o programa de Deus na Escatologia. Sei que os críticos da visão pré-milenista tripudiam ao ler isso, mas é possível demonstrar lacunas na maneira como defendem suas posições a respeito do que chamam “o único povo de Deus” (ver capítulo 2 de Milênio, do mesmo autor).

Deus tem o Seu povo; no passado, o Senhor teve um povo eleito para anunciar o Seu nome, e no presente é a Igreja que está com a incumbência de cumprir essa missão. O milênio é necessário para cumprir os pactos feitos no passado. A promessa de Deus a Abraão levará a um tratamento com Israel no milênio, pois, além da vocação universal de Abraão, expressa no chamado sacerdotal de Gênesis 12.1-3, Deus fez com ele um pacto étnico. Em Deuteronômio 7.7,8, lemos que a escolha de Israel não se deveu a nada de atraente que aquele povo pudesse ter. Ao contrário.

O aspecto sacerdotal da promessa a Abraão tem sido executado pela Igreja. Não há distinções étnicas nesse pacto; o chamado sacerdotal evoca uma função, uma missão a ser cumprida, não uma condição própria. No que diz respeito à função sacerdotal, em Cristo todas as barreiras de separação caíram: “Pois não há distinção entre judeu e grego” (Rm 10.12). E ainda: “pois ele [Cristo] é a nossa paz. De ambos os povos fez um só e, derrubando a parede de separação, em seu corpo desfez a inimizade” (Ef 2.14).

Aqueles que estão em Cristo são novas criaturas, e a graça de Deus opera neles; como alvo do trabalho sacerdotal, os povos alcançados pelo Evangelho não podem exaltar suas diferenças étnicas. Não há preferências, de qualquer natureza, de um em detrimento do outro. O que conta é o fato de a pessoa estar ligada a Cristo, o tronco da oliveira (Rm 11.17-21). Este texto é emblemático sobre a situação dos gentios, os estrangeiros que não eram (e não são) judeus. Paulo reservou os capítulos de 9 a 11 de sua carta aos Romanos para tratar da futura situação de seu povo. Nós éramos a “oliveira silvestre” (outras versões trazem “oliveira selvagem” ou “zambujeiro”), que foi enxertada na oliveira cultivada. Os ramos cortados são referência a Israel, que é cortado do tronco para o enxerto da Igreja. Note a ordem na revelação feita pela Bíblia, inclusive ordem cronológica (sai um, entra o outro). E Paulo prossegue a sua explicação de como será o futuro para Israel (Rm 11.25-31, citando Is.59.20). A eleição a que Paulo se refere é a que lemos em Deuteronômio 9.4,5.

A Terra de Canaã sempre esteve ocupada. Antes de o Senhor chamar Abraão, havia diversos povos ali, os filisteus inclusive (Gn 21.34). De Jacó nasceu José, que foi para o Egito e levou para lá a sua família. Quatrocentos anos depois uma multidão de seus descendentes, chamados hebreus, saíram do Egito rumo à terra prometida a Abraão. Eles não saíram sós, levaram consigo outros grupos minoritários (Êx 12.38). Neste capítulo 12 lemos que aos estrangeiros foi proibido tomar parte da celebração da páscoa, e, no versículo 49, lemos: “Haverá uma só lei para o natural da terra e para o estrangeiro que estiver vivendo entre vós”.

Ao saírem do Egito, o Senhor não permitiu a passagem mais curta pela região costeira do Mediterrâneo, por um motivo único: “Para que, caso enfrente guerra, o povo não se arrependa e volte para o Egito” (Êx 13.17). Os filisteus ocupavam uma faixa de terra quando Israel avançou para a sua ocupação. Estavam lá não se sabe há quanto tempo, vindos do que hoje chamamos Ilha de Creta, grega, a oeste do Mar Mediterrâneo. Jeremias, o profeta, chamou de Ilha de Caftor (Jr 47.4). Comentando o versículo de Jeremias, Adam Clarke associa Caftor a Creta, Chipre ou a um possível distrito na Costa do Mediterrâneo ou próximo a Capadócia.[2] Caftor é o local de onde descendem os caftorim, filhos de Mizraim (1Cr 1.11,12).[3]

Amós também se referiu aos filisteus como originários de Caftor, e acrescentou que o próprio Deus os tirou da ilha, conduzindo-os a Canaã (Am 9.7). Sendo assim, originalmente os palestinos não eram árabes, como se pensa hoje.

EL-MUNDO-DEL-ANTIGUO-TESTAMENTO

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Se eram “caftorins”, como se tornaram filisteus? E o nome Palestina?

A mais antiga referência conhecida à Palestina está no trabalho do historiador grego Heródoto (c. 484-425). Ele diz que Palaistine é “parte da Síria” e fica ao longo da costa do Mediterrâneo.[4] Cerca de 500 anos mais tarde, o historiador judeu Flávio Josefo (37-100), em suas Antiguidades, citou Heródoto, ao se referir à “Síria de Palaistine” e “os sírios que estão em Palaistine são circuncidados”. Mas Josefo rapidamente “corrige” Heródoto, observando que os únicos “habitantes de Palaistine [que] são circuncidados [são] os judeus”.

Bard acredita que os habitantes mais remotos da palestina seriam povos egeus (BARD, 2004, p. 10). Por sua vez, na Bíblia hebraica há uma palavra por trás das várias ocorrências na versão inglesa de King James para Palestine, Palestina e filisteus. Essa palavra é peleshet. A raiz da palavra é pelesh, que dá origem a peleshet (palestino), e significa divisor ou invasor, dependendo do contexto. Mas certamente essa atribuição foi feita pelos judeus, pois não parece coerente um povo dar a si mesmo uma conotação tão negativa.

Uma história, cuja veracidade não pude apurar, diz que o nome Palestina (ou uma de suas variantes falastin ou filastin) foi empregado pelos romanos para zombar dos judeus. Isso teria ocorrido após a tomada violenta de Jerusalém, por volta do ano 70, quando se cumpriu a profecia de Jesus (Mt 24.2). Para provocar a ira dos judeus, os romanos chamaram-nos de palestinos. Sabiam da rivalidade entre eles. No Antigo Testamento, os filisteus habitavam as cidades de Gaza, Ashkelon, Ashdod, Ekron e Gate, de onde veio o gigante Golias (1Cr 20.6). A discussão a respeito da origem dos palestinos árabes (que originalmente eram caftorins, praticamente “europeus”) é longa, conflituosa e envolve muitos interesses.

Nas narrativas mais recentes e aceitas por movimentos pró-Palestina e militantes (normalmente de esquerda) adotam posições como as de Edward W. Said (1935-2003), um importante intelectual palestino (e cristão). Said defende que

por centenas de anos, existiu na terra chamada Palestina um povo essencialmente pastoril e, no entanto, social, cultural, política e economicamente identificável, cuja língua e religião (em grande parte) árabe e islâmica, respectivamente (Said, p. 9, ênfase acrescentada).

Sendo identificável que é uma comunidade “árabe e islâmica”, a data de sua ida para a região não pode ser anterior ao século 7 d.C., uma vez que o Islã foi criado pelo Profeta Muhammad c. 622 d.C., mais de quinhentos anos depois da invasão romana em Israel! Said admite:

A Palestina tornou-se um país predominantemente árabe e islâmico no fim do século VII. Pouco depois, suas fronteiras e suas características – inclusive seu nome árabe, Filastin [Filisteia] – ficaram conhecidas em todo o mundo islâmico…” (Said, p. 12)

A Palestina se tornou uma província do Império Otomano em 1516 (Said, 2012, p. 13). Remonta daí o seu perfil árabe com o Islã sendo a religião relativamente predominante como vemos hoje. Sua população era constituída de uma minoria judaica.

Durante o retorno do exílio na Babilônia, os judeus encontraram povos na terra. Neemias fez os registros de quem eram e de onde originavam, ou seja, a sua etnia. Talvez tivessem nascido na terra, embora a ascendência fosse estrangeira (Sambalate era horonita, Tobias e Gesém árabes, Ne 2.19; Tobias era amonita, Ne 4.3), e havia outros árabes em Jerusalém, além do grupo vindo de Ashdode, terra dos filisteus (Ne 4.7).

Lendo o livro de Neemias é impossível não perceber o conflito já estabelecido entre as diferentes etnias no território. Os gentios habitarão em Israel no milênio. Irão para lá, pois para lá irão todas as nações (Is 2.2-4). Israel é a nação herdeira majoritária daquela terra devido ao pacto com Abraão, mas Israel não terá a exclusividade dela. Mesmo no Antigo Testamento havia leis para os estrangeiros que peregrinassem em seu território (Lv 17.8,10,13,15; 19.34; 20.2; 22.18). Cito Levíticos 19.34: “O estrangeiro que viver entre vós será como um natural da terra. Devereis amá-lo como a vós mesmos, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus”.

Além de Levítico, foram dados mandamentos (Êx 22.21-23) que orientavam os judeus no trato com os estrangeiros. Essa preocupação de Deus com os estrangeiros se deve a dois fatos. Primeiro, que o próprio Israel havia sido estrangeiro no Egito e lá sofrera intensa escravidão após a morte de José. E segundo, que “do Senhor é a terra” (Sl 24.1; 89.11).

Há muitas passagens na Bíblia que fazem esta afirmação, tanto o Senhor dizendo-se dono da terra, como os autores atribuindo a Ele a propriedade dela. A mentalidade dos povos do Oriente Médio com relação à posse da terra difere da nossa maneira de ver a questão. A terra é a fonte dos recursos, é de onde se tira o sustento, e o ser humano veio dela, e para ela voltará. O Senhor é dono da terra e quer que seus filhos vivam nela harmoniosamente. Ele quer que os homens vivam da terra, não que se matem por um pedaço de chão. Mesmo no registro do sermão profético de Jesus em Mateus 24, lemos a palavra ethnē (de onde temos etnia), povos da terra, que nossas traduções verteram como “nações”.

As tribos no Oriente Médio, tanto as de Israel como as das nações vizinhas, não dividiram a terra como as nações modernas fizeram, com fronteiras que não podem ser penetradas. Os territórios são conhecidos por seus moradores, como as próprias divisões entre as doze tribos indicam, mas a prioridade entre eles era a vida, e não a posse da terra. Os estrangeiros poderiam transitar nos termos de Israel, poderiam comer da sua lavoura, e o Senhor deu mandamentos sobre isso. Jesus e os discípulos fizeram uso desse direito, comendo da plantação de terceiros (Mt 12.1).

O conceito moderno ocidental de nação é novo, não tem mais que duzentos anos. Foi a expansão colonialista de países europeus, como a França, a Holanda e a Inglaterra, que criou países como a Indonésia e a Índia, antes divididos por tribos e etnias. O mesmo pode ser dito da Arábia Saudita, da Jordânia, do Iraque, do Irã e da própria Palestina (Kamel, p. 114), que ainda hoje não teve a sua situação resolvida por meio do reconhecimento total dos países membros da ONU.[5] Isso não significa que as vidas das pessoas daquele lugar sejam de uma categoria diferente da de qualquer outra pessoa. E é a isso que devemos dedicar o maior cuidado, quando fazemos teologia e lidamos com as promessas e a questão dos pactos. Em Cristo não há mais distinções étnicas, nem econômicas, nem culturais, nem de gênero. Em Cristo somos um.

Mas há um conflito intenso, com períodos de paz, entre israelenses e palestinos e nós, cristãos, temos uma forte inclinação a dar razão a tudo o que Israel faz dentro dos territórios que ocupa. E a palavra certa é essa: “ocupa”, porque segundo o plano de partilha da Terra na ocasião da sua independência, Israel não poderia ocupar toda a terra, uma vez que havia milhões de pessoas ali, inclusive uma minoria de judeus. Karen Armstrong fala da presença de judeus em Gaza no século 17: “Ouvira falar de um jovem e talentoso [rabino] cabalista de Gaza” (p. 49). Também menciona a Edah Haredis, comunidade dos ultraortodoxos de Jerusalém, que se opunha veementemente ao sionismo muito antes da Declaração Balfour, anunciada em novembro de 1917 pelo governo britânico na forma de uma carta de lorde Rothschild […] na qual o governo [inglês] se comprometia a ‘avaliar favoravelmente o estabelecimento na Palestina de uma pátria para o povo judeu’.” (Said, p. 18). Era um grupo pequeno, que atraíra apenas 9 mil dos 175 mil judeus residentes na palestina nos anos de 1920 (Armstrong, pp. 276,277). Said também aponta números precisos em período anterior a isso: “Segundo fontes israelenses, não havia mais do que 24 mil judeus na Palestina em 1822, menos de 10% da população total, majoritariamente árabe” (p. 10). Para os anos mais recentes, Said aponta:

[…] em 1931 a população judaica era de 174.606 pessoas entre um total de 1.033.314; em 1936 o número de judeus subiu para 384.078 entre 1.366.692; e em 1946 eles eram 608.225 numa população de 1.912.112” (The Anglo-Palestine Yearbook 1947-8, p. 33, apud Said p. 13).

Hoje a população palestina é de 4 milhões na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, além dos mais de 4 milhões que vivem em campos de refugiados no Líbano, na Jordânia, no Iraque e na Síria. Se somar os árabes palestinos cidadãos de Israel, o número de palestinos chega a 5,2 milhões.

Embora sejamos rápidos ao chamá-los de invasores – e já ouvi pastores dizer que são inclusive perigosos – não questionamos quem são eles do ponto de vista do Evangelho, e nisso cometemos alguns equívocos. Shedd comenta que tem sido frequente pensar nos judeus como “irmãos” de Jesus (baseado em Mt 25.40) e que “nações como o Brasil ou os Estados Unidos devem tratar bem os israelitas, porque as nações que assim atuarem serão galardoadas por todo benefício que estenderam a Israel […] Mas tal interpretação não cabe a esta passagem. Jesus mesmo declarou que seus ‘irmãos’ eram os que nele criam” (Shedd, p. 27).

Os palestinos são vidas humanas com valor inestimável, e vida é o assunto predileto de Jesus. Em segundo lugar, muitos deles são cristãos. Somente na cidade de Belém, que está na Cisjordânia (território palestino), cerca de 30% da população é cristã (Flint, p. 285). Há cristãos em outras cidades palestinas, cristãos idênticos a cada um de nós, que creem no mesmo Jesus e esperam morar no mesmo céu. O bispo anglicano Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz declarou: “Sou cristão, e muitos palestinos são cristãos – para ser mais exato, a maioria é anglicana” (Tutu, p. 106).

Embora os partidos políticos palestinos não sejam de orientação cristã (e, mesmo no Brasil, poderíamos identificar apenas um partido, dentre mais de 30, com essa orientação), os líderes islâmicos sempre respeitaram os cristãos de Belém e seus símbolos. Nas eleições palestinas de 2006, cristãos votaram no Hamas, que venceu as eleições derrotando o Fatah, partido de orientação nacionalista (Flint, p. 288). O Hamas elegeu um cristão para seu ministro do turismo (Hroub, p. 22).

A sociedade palestina sempre se caracterizou por uma religiosidade predominante, a despeito de a resistência à colonização israelense ser realizada pelo “partido nacionalista Fatah e partidos à sua esquerda expressamente secularistas – isso até o estabelecimento do Hamas” (Demant, p. 216).

Quando Israel foi declarado oficialmente um Estado, em 1948, a Irmandade Muçulmana estendeu-se fisicamente para os territórios da Cisjordânia, anexados à Jordânia, e para a Faixa de Gaza, sendo encabeçada pela liderança egípcia (HROUB, p. 35). Ismail Abu Shanab, um dos líderes do Hamas e presidente da Sociedade de Engenheiros de Gaza, diz que “a causa palestina deve ser entendida desde sua origem […] Ela começou em 1917, ou até antes, e continuou quando os judeus desalojaram os palestinos de suas casas em 1948” (Stern, p. 35).

A ocupação dos territórios palestinos por exército e colonos israelenses é um drama para a vida de milhares de famílias. Guila Flint diz que só na Faixa de Gaza vivem 1 milhão de palestinos e 5 mil colonos israelenses, que controlam 30% das terras e 40% das fontes de água. “Grande parte das reservas subterrâneas de água é canalizada para os assentamentos e para o território de Israel” (Flint, p. 56).

“A liderança dos colonos está nas mãos do setor ideológico. Movidos por uma visão nacionalista-religiosa, os colonos militantes acreditam que a chamada Terra de Israel bíblica pertence exclusivamente ao povo judeu e que os palestinos são intrusos nesses territórios” (Flint, p. 137). Ela relata, ainda, a existência de “generosos subsídios do governo para a moradia nos territórios ocupados” e que “aos colonos são oferecidos empréstimos muito favoráveis e isenção de impostos”. Como se isso não bastasse, “os assentamentos cercam as áreas palestinas, impedindo qualquer crescimento das cidades e aldeias palestinas” (Flint, p. 138).

No filme-documentário Cinco Câmeras Quebradas[6], há depoimentos de interferência israelense nas propriedades palestinas dividindo-as ao meio pela construção do Muro, a partir de 29 de março de 2002, separando famílias palestinas e também separando o espaço da moradia do terreno cultivado para sustento, muitas vezes, com uma cultura realizada há décadas. Mostra também colonos que ateiam fogo a oliveiras, base de sustentação da agricultura e parte da economia palestina na região. Almira Hass, do Haaretz, dá conta que mais de 1.358 oliveiras foram queimadas ou destruídas na Cisjordânia de 11 de setembro a 8 de outubro de 2013 (menos de um mês).[7]

Após o início da construção do muro, tropas israelenses invadiram Ramallah (abril/2000). Mais de 200 palestinos foram mortos e milhares foram feridos, 1.400 casas foram destruídas. As tropas invadiram ONGs, ministérios, institutos culturais, hospitais, farmácias, supermercados, escolas e bancos. Tudo foi destruído, móveis destruídos, documentos e arquivos confiscados. Pesquisas e coletas de dados sobre 3,5 milhões de palestinos foram perdidos. Relatórios, exames médicos, fichas de doentes (Flint, p. 183). Jamal Salman (diretor-geral da Prefeitura de Belém) diz que as restrições impostas pelo exército israelense “provocam uma intensa frustração. E a frustração é a semente da violência” (Flint, p. 215). E sobre o muro, acrescenta: “A segurança é só o pretexto. O objetivo verdadeiro é confiscar mais terras dos palestinos e criar fatos consumados nessa área, pois a cerca não passa na linha verde (fronteira original entre Israel e a Cisjordânia) (Ibidem, p. 218). Outro resultado é o aperto econômico por causa do muro. Somente um palestino, Hassan Harouf, 42, perdeu 80 mil dos 93 mil metros quadrados, com o confisco de suas terras (Flint, p. 219).

A devastação não é ocasionada pela construção do muro; ela ocorre há décadas com alguns períodos de agravamento. Por exemplo:

[…] após a ocupação israelense da Cisjordânia e de Gaza em 1967, a mesma política de destruição foi implantada nessas áreas; no fim de 1969, 7.554 residências árabes foram arrasadas e, em 16 de agosto de 1971, 212 casas foram demolidas, segundo o londrino Sunday Times de 19 de junho de 1977 (Said, p. 17).

A atividade mineradora também causa prejuízos ao povo palestino, já que as pedreiras israelenses transportam anualmente nove dos 12 milhões de toneladas da pedra palestina destinadas à construção civil. “Os três milhões restantes são usados pelo setor de construção palestino e também para construir assentamentos israelenses na Cisjordânia” (Flint, p. 438).[8]

Na Faixa de Gaza, o exército de Israel chegou a colocar seus caças supersônicos voando a baixas altitudes sobre regiões residenciais, provocando danos à saúde, especialmente das crianças. Elas entraram em estado de ansiedade e pânico, perderam apetite e capacidade de se concentrar nos estudos, tiveram medo de se distanciar dos pais e de ir à escola, não conseguiam dormir à noite. Sentiam-se desorientadas (Flint, p. 264). “Os habitantes de Gaza pediram 9 mil aparelhos de audição para crianças […] que ficaram surdas em decorrência do barulho contínuo de explosões e choques ultrassônicos causados por caças israelenses que sobrevoaram frequentemente a região” (Flint, p. 391). Flint também fala da “arma fedorenta” desenvolvida pelo Exército de Israel, um líquido lançado pelo “gambá”, que “é pior que cheiro de esgoto e não sai das roupas, mesmo após a lavagem […] tem um cheiro horrível, parece de cadáver” (Flint, p. 384).

Não podemos olhar para o atual governo de Israel e imaginar que eles são o povo bíblico de Deus do Antigo Testamento e que todas as suas ações expressam a vontade do Senhor. Essa é uma confusão bastante frequente entre nós, evangélicos. O atual estado das coisas ainda preserva a Igreja e a confissão de fé em Jesus Cristo como a referência para o que Deus sustenta em relação às pessoas de fé, e, embora exista uma minoria cristã em Israel, o povo tem rejeitado o Senhor; não o querem como Salvador nem Messias, e isso os coloca à margem, como qualquer pessoa que rejeita a oferta da graça feita pelo Evangelho.

Por outro lado, nos territórios palestinos (já que há dois territórios divididos entre a população da Cisjordânia e a da Faixa de Gaza), há grupos cristãos minoritários, como citei há pouco. Também há secularistas, pessoas que devem guardar simpatia por uma ou outra religião, mas não confessam publicamente nenhuma delas. E há os muçulmanos, de quem há relatos que dão conta de terem mantido, por décadas, uma boa convivência com judeus e cristãos. Hroub[9] faz este relato:

A sociedade palestina, em larga escala, é muito diversa, com seculares e religiosos, muçulmanos e cristãos, que têm vivido lado a lado por séculos, sem aderir a qualquer forma rígida de estrutura social ou religiosa (Hroub, p. 107).

Acontece que boa parte (senão a maioria) das notícias que chegam até nós relata exclusivamente o terror fundamentalista com foco nos islamistas. Fatah, Hamas, Jihad Islâmica. entre outros. Esses grupos têm seus braços militares, suas brigadas, mas a participação deles na Autoridade Palestina exigiu moderação e envolvimento nos diálogos com países vizinhos, forçando-os, especialmente o Hamas, após as eleições de 2006, a ocuparem-se de uma atuação mais política que de resistência (embora sem abandoná-la). Confundir palestinos com terroristas não é a opção mais acertada a ser feita, como tomar partido incondicional pelos israelenses também não é a escolha mais inteligente e bíblica.

Tanto uns quanto outros carecem do conhecimento do Evangelho. Há atuação cristã em ambos os territórios, entre todas as etnias presentes ali. Enquanto a Igreja estiver presente na terra, o melhor a fazer é focar os que não conhecem a Jesus, nem como Salvador, nem como Messias. O trabalho de separação de bodes e ovelhas será feito pelo Senhor; não é nossa tarefa eleger os mocinhos e os bandidos (Mt 25.32).

Existem negociações (inúmeras) na tentativa de criar harmonia na região, e elas discutem qual possibilidade é a mais adequada, se um estado binacional ou mesmo a criação de dois estados. Penso que a criação de dois estados seria o ideal; muitos especialistas no conflito também pensam assim, mas há quem se oponha a isso. Acima da preocupação com o estado político e a situação geográfica da questão, há vidas, milhões delas, que precisam de atenção, cuidados básicos e direitos que preservem suas existências, que lhes permitam viver em paz. E Jesus chamou “bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). Essa é a posição mais acertada para a Igreja, hoje, e não tentar fazer o trabalho de Deus, separando uns e outros, rotulando uns em detrimento de outros, e negando socorro a quem de fato necessita.

A palavra final neste conflito será do Senhor. As Escrituras dizem que Jerusalém será a cidade mais importante do mundo no Milênio, será o centro do mundo (Is 2.2-4; Jr 31.6; Mq 4.1; Zc 2.10, 11); será o centro do governo do reino (Jr 3.17; 30.16,17; Jl 3.17; Mq 4.7); será gloriosa e glorificará a Jeová (Is 52.1-12; 60.14-21; Zc 2.1-13), e será ampliada (Jr 31.38-40; Ez 48.30-35; Zc 14.10). Já hoje está dividida entre três grupos: cristãos (armênios e ortodoxos), muçulmanos e judeus. Tomara que até o milênio todos eles possam desfrutar de maiores momentos de paz e respeito.

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Fonte: napec.org

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