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“Conheço as tuas obras… que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” – Carta à Filadélfia

“Conheço as tuas obras… que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” – Carta à Filadélfia
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Entre as sete cartas às igrejas no Apocalipse, encontramos duas que não contêm nenhuma crítica: A carta à igreja em Esmirna, uma congregação pobre que enfrentava perseguição, e a carta à igreja em Filadélfia, uma congregação fraca e limitada, mas que dependia de Deus.

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Por Pr. Silas Figueira

“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá”. Ap 3.7

“Ao anjo da igreja…”

Entre as sete cartas às igrejas no Apocalipse, encontramos duas que não contêm nenhuma crítica: A carta à igreja em Esmirna, uma congregação pobre que enfrentava perseguição, e a carta à igreja em Filadélfia, uma congregação fraca e limitada, mas que dependia de Deus. Os homens tendem a medir força e qualidade em termos de tamanho, poder e riqueza. Jesus vê as igrejas de forma diferente. Independente de sucesso em termos mundanos, Jesus olha para o caráter e o coração de cada discípulo e de cada igreja. Ele anda no meio dos candeeiros e sabe muito bem quem pertence a ele.

Evidentemente, tinha havido uma recente perseguição em Filadélfia, mas os cristãos (apesar da forte pressão) mantiveram sua fé. Como em Pérgamo, onde Antipas foi cruelmente martirizado, também em Filadélfia os cristãos tinham corajosamente permanecido firmes. Eles estavam pacientemente suportando tribulação e humilhação por amor a Cristo [1].

“… Filadélfia…”

Esta era a mais jovem das sete igrejas da Ásia. Esta cidade foi fundada por colonos que vieram de Pérgamo sob o reinado d e Átalo II nos anos de 159 a 138 a. C. Átalo amava tanto ao seu irmão Eumenes que o apelidou de Philadelphos, que quer dizer aquele que ama a seu irmão, ou amor fraternal. Daí o nome da cidade. A cidade de Filadélfia gozava de uma localização estratégica de acesso entre os países antigos de Frígia, Lídia e Mísia. A região produzia uvas, e o povo especialmente honrava a Dionísio, o deus grego do vinho. A cidade servia como base para a divulgação do helenismo às regiões de Lídia e Frígia. Localizava-se num vale no caminho entre Pérgamo e Laodicéia. A cidade fora castigada por vários terremotos e as pessoas viviam assustadas pela instabilidade. Existiam muitos terremotos e grandes tremores de terá na cidade de Filadélfia. Muitos viviam em tendas fora da cidade. Paredes rachadas e desabamentos eram coisas comuns na cidade. Era uma região perigosamente vulcânica. O terremoto do ano 17 d.C., que destruiu Sardes, também atingiu Filadélfia e reconstruída pelo imperador Tibério. Mas para a igreja assustada com os abalos sísmicos da cidade, Jesus diz: “Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá…” (3.12) [2].

Em alguns momentos de sua história, a cidade recebeu nomes mostrando uma relação especial ao governo romano. Por volta do ano 90 d.C., com ajuda imperial, a cidade de Filadélfia tinha sido completamente reconstruída. Em gratidão, passaram o nome da cidade para Neocesaréia – a nova cidade de César. Durante o reinado de Vespasiano, foi também chamada de Flávia (nome da mulher dele, e a forma feminina de um dos nomes dele). Jesus então, aproveitando essa situação cultural diz para a igreja que os vencedores teriam um novo nome (3.12). Não o nome de César, mas o nome de Deus. Atualmente, a cidade de Alasehir fica no mesmo lugar, construída sobre as ruínas de Filadélfia [3].

“… Estas coisas diz o santo…”

Jesus revela-se como aquele que é santo. Como cabeça da Igreja, é santo em seu caráter, palavras, ações e propósitos. Ele é completamente santo [4]. Aqui no Apocalipse santo é um título de Deus (4.8; 6.10), mas Jesus é também chamado assim diversas vezes (Mc 1.24; Lc 4.34; Jo 6.69; 1Jo 2.20), mostrando que Ele tinha uma vida sem pecado e totalmente dedicada a Deus.

“… o verdadeiro…”

A palavra verdadeiro ou genuíno tem dois significados diferentes. No contexto grego a palavra significa o que é real, que corresponde à realidade. Mas no contexto hebraico ela significa o que é fiel e confiável. No Antigo Testamento Deus é o que mantém para sempre a sua fidelidade (Sl 146.6), isto é, podemos confiar que ele sempre cumprirá as suas promessas. Quando o Antigo Testamento fala do Deus verdadeiro isto acontece sempre no sentido de que ele é fiel (Êx 34.6) à sua promessa do pacto. No contexto de Filadélfia o verdadeiro lembra o pacto que Deus fez com Israel nos tempos do Antigo Testamento e que ele agora cumpriu fielmente na Igreja, em Jesus Cristo [5].

Hernandes Dias Lopes falando de Jesus dentro desse contexto diz que Ele não é uma cópia de Deus, é o Deus verdadeiro. Havia centenas de divindades naqueles dias, mas somente Jesus podia reivindicar o título de verdadeiro Deus [6].

“… aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá”.

A chave de Davi podemos entender somente olhando para o Antigo Testamento. Em Isaías 22.22 diz: “Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fechará, fechará, e ninguém abrirá”. Eliaquim recebeu a chave como novo administrador das coisas do rei e, já que assim ele era representante do rei, ele estava autorizado a exercer autoridade plena em nome do rei. A Chave de Davi é a chave da casa de Davi – o Reino messiânico [7]. A chave do Reino de Deus pertencia a Israel, mas agora na verdade pertence a Jesus, o Messias davídico (Ap 5.5). Por isso que somente Cristo pode abrir a porta do Reino messiânico aos homens, Israel perdeu esse privilégio.

Vemos aqui como Jesus tirou essa autoridade dos judeus e deu a Igreja. O Senhor condena o legalismo dos judeus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!” Mt 23.13) e transfere a autoridade de porteiro à Igreja: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus.” Mt 16.19). Dessa forma Pedro e os outros cristãos têm de dar as boas vindas não somente aos judeus, mas aos samaritanos e aos gentios como membros permanentes do Reino (At 2, 8, 10). Assim, todo conceito expresso nas palavras: chave, porta, templo e coluna torna-se cristão, e é a base para a transferência acima mencionada. Os judeus precisarão aprender que “eu te amei” [8].

“Conheço as tuas obras – eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar – que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome”. (Ap 3.8)

“Conheço as tuas obras…”

Essa é uma declaração comum em todas as cartas, no entanto aqui não há maiores detalhes destas boas obras. A igreja de Filadélfia era tão rica em boas obras que ela agradava ao Senhor. Mesmo tendo pouco poder, pouca influência e sendo pequena, ela só mereceu elogios e nenhuma crítica [9].

“… eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta…”

A igreja era pequena em tamanho e em força, mas grande em poder e fidelidade. Deus na verdade escolhe as coisas fracas para envergonhar as fortes. Sardes tinha nome e fama, mas não vida. Filadélfia não tinha fama, mas tinha vida e poder. A igreja tinha pouca força, mas Jesus colocou diante dela uma porta aberta, que ninguém pode fechar. A igreja é fraca, mas seu Deus é Onipotente. A nossa força não vem de fora nem de dentro, mas do alto [10].

Porta aberta, no conceito do Novo testamento, quer dizer uma oportunidade para o ministério e pregação do evangelho. Alguns exemplos são muito claros (At 14.26,27; Cl 4.3,4). A primeira porta é a porta da salvação. Jesus disse em João 10.9 que Ele é a porta da salvação, da liberdade e da provisão. A segunda porta é a porta da evangelização. As angústias da cidade são como que o grito de socorro de homens carentes do evangelho. Jesus fala de uma porta de oportunidade para se pregar o evangelho [11]. Por causa da sua localização geográfica, pois ela situava-se junto às fronteiras de Mísia, Lídia e Frígia, a igreja de Filadélfia estava tendo a oportunidade de propagar as boas novas da graça do Reino de Deus de forma ampla. Assim como ela expandiu a cultura grega, agora ela estava tendo a oportunidade de expandir o evangelho de Cristo.

“… a qual ninguém pode fechar…”

A porta foi divinamente aberta, e só o Senhor poderá fechá-la. Aqui ele fala especificamente da natureza das oportunidades dadas aos discípulos em Filadélfia, mas garante que as portas ficariam abertas. Hoje, quando Deus abre portas de oportunidade para nós, devemos aproveitá-las (Tiago 4:17) [12]. Os judeus de Filadélfia eram agressivos em sua hostilidade em relação à igreja, e diziam que somente eles – Israel – tinham acesso à porta do Reino de Deus. Cristo assegura à igreja que os judeus não terão sucesso em seu propósito de fechar a porta do Reino de Deus para a igreja [13].

“… que tens pouca força…”

“Sei que tens pouca força” é a melhor tradução segundo George Ladd [14]. Não é o tamanho nem a força da igreja que determinam seu ministério, mas sua fé e obediência aos mandamentos do Senhor. Ou, ainda, não é o tamanho nem a força da igreja que determina seu ministério, mas o seu ministério é determinado pela fé e obediência para com o Senhor. Se Jesus abriu as portas, então Ele veria a disponibilidade da comunidade em andar e passar por ela. Talvez a congregação fosse pequena, ou talvez fosse composta predominantemente das classes mais baixas da sociedade romana, o que fazia que ela tivesse pouca influência sobre a cidade [15].

Jorge Henrique Barro faz uma comparação entre a igreja de Filadélfia e as igrejas no Brasil em relação ao tamanho das congregações. Ele diz que nem é preciso fazer muitas pesquisas para chegar a conclusão que a maioria das igrejas brasileiras não passa de duzentos membros. Mas não podemos nos esquecer, diz ele, de que são igrejas com menos de duzentos membros que estão desenvolvendo a maioria dos ministérios no Brasil atual. O poder de uma igreja não está no tamanho nem na força-influência que ela possui, pois seu poder está proporcionalmente ligado à sua fidelidade à Palavra e à sua fidelidade ao nome de Cristo [16].

“… entretanto, guardaste a minha palavra…”

Os crentes da igreja de Filadélfia achavam-se fielmente submissos à Palavra de Deus. Pregavam-na, ensinavam-na, obedeciam-na, viviam-na e a compartilhavam. Não se afastaram da Palavra. Qualquer coisa que fizessem, era dirigida pela Palavra de Deus.

“… e não negaste o meu nome”.

Esta igreja não se envergonhava do Evangelho. Muitos em Filadélfia, especialmente os judeus incrédulos, forçavam os crentes a negligenciar os ensinamentos de Cristo e a negar a fé [17]. Obediência e compromisso são os destaques da igreja de Filadélfia. Obediência à Palavra de Jesus e compromisso que assume as consequências de honrar o seu nome. Duas características que valem ouro; duas características que todo pastor sério anseia e busca em sua comunidade. Trata-se da centralidade da palavra e da centralidade de Cristo na comunidade (Jo 14.15) [18].

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