Batismo Estudos Bíblicos

A perseverança do verdadeiro crente.

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“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tomaram participantes do Espírito Santo…

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Por Anthony Hoekema

Provavelmente, a passagem mais difícil sob esse subtema, seja a de Hebreus 6.4-6:

“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tomaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.”

À primeira vista parece que as pessoas descritas aqui eram verdadeiros crentes que caíram. Grant R. Osborne, comentando essa passagem, diz o seguinte: “Não há descrição mais detalhada do crente verdadeiro em todo o Novo Testamento”.

Outros, porém, a interpretam de maneira diferente. John Owen, em seu comentário sobre Hebreus, oferece quatro razões pelas quais as pessoas aqui descritas (tomando como se realmente existissem, e não casos meramente hipotéticos) não eram verdadeiros crentes: (1) Não há menção à sua fé. (2) A despeito do que se diga delas, não se diz que foram regeneradas, santificadas ou que foram feitas filhos de Deus. (3) Elas são comparadas, no verso 8, à terra que produz espinhos e abrolhos, prontas para serem queimadas. (4) Elas são distintas dos verdadeiros crentes nos seguintes pontos: (a) o autor diz aos seus leitores: “Quando a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação” (v. 9); (b) ele atribui aos seus leitores o amor que evidenciaram para com o nome do Senhor e no serviço aos santos (v. 10), enquanto não atribui obra alguma aos apóstatas; (c) ele assegura aos seus leitores da sua preservação da fé na base da justiça de Deus (v. 10) e da natureza imutável do propósito de Deus (v. 17-18), ainda que essa preservação não ocorra à parte de sua própria diligência (v. 11-12). Na verdade, a própria da esperança como a âncora da alma, no verso 19, ressalta poderosamente a segurança do verdadeiro crente. Pois, que valor tem uma âncora que não segura?

Eu acrescento ao comentário de Owen a referência a Hebreus 7.25, passagem que já consideramos neste capítulo: “Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles”. Temos aqui, logo no capítulo seguinte da epístola, uma descrição do crente verdadeiro. Um verdadeiro crente, diz o autor de Hebreus, é alguém por quem Cristo, o sumo sacerdote eterno, intercede sempre, que o salva totalmente e para sempre. É possível que quem escreveu essas palavras não poderia sequer imaginar que as pessoas descritas em 6.4-6 fossem cristãos autênticos – pessoas que tenham realmente “vindo a Deus por meio de Cristo” e pelas quais Cristo continua intercedendo?

As reais dificuldades da passagem, porém, dizem respeito, primeiro, ao significado das diversas frases usadas nos versos 4 e 5 para descrever essas pessoas. Aqueles que ensinam que os crentes verdadeiros podem cair, as interpretam como descrevendo os frutos da verdadeira fé. À luz do contexto, porém, essa não pode ser a interpretação certa.

F. F. Bruce sugere que “foram iluminados” (v. 4), talvez se refira ao batismo dessas pessoas, já que no século 2º o batismo era frequentemente chamado de “iluminação”. Mesmo que não aceitemos essa interpretação, não encontramos particular dificuldade aqui, já que as pessoas descritas no texto foram obviamente iluminadas pelo evangelho.

“Provaram o dom celestial.” Bruce vê aqui uma referência à Ceia do Senhor. Essa é uma interpretação possível. Essas palavras podem também se referir às bênçãos espirituais do cristianismo. Essas pessoas tiveram uma mostra das bênçãos durante os anos de associação com o povo de Deus.

“Participaram do Espírito.” A chave para essas palavras, creio, é encontrada em 10.9, onde lemos sobre o homem que “ultrajou o Espírito da graça”, profanando e desprezando as bênçãos recebidas. Se for assim, ele ter tido algum contato com o Espírito Santo. Ter “participado do Espírito”, portanto, pode ser interpretado como significando que essas pessoas experimentaram certas operações do Espírito que, não obstante, rejeitaram. Podemos pensar nisso em relação ao pecado contra o Espírito Santo descrito em Mateus 12.31-32.

“Provaram a boa palavra de Deus” (v. 5). Essas pessoas ouviram a palavra de Deus e provaram sua bondade, mas nunca a aceitaram plenamente.

“E os poderes do mundo vindouro.” Aqui pensamos em sinais maravilhosos que indicaram que “a era porvir” estava presente. Em 2.3-4, lemos que a mensagem do evangelho foi confirmada por aqueles que ouviram o Senhor, “dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade”. A palavra aqui traduzida como “milagres” (dynameis) é a mesma palavra traduzida como “poderes” em 6.5. Esses milagres ou poderes foram provados pelas pessoas descritas no capítulo 6. Elas viram milagres surpreendentes acontecer – e ainda assim caíram. Lembramos as palavras de Jesus sobre pessoas que não somente testemunharam milagres, mas mesmo realizaram-nos, às quais ele diria no fim dos tempos: “Apartai-nos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7.23).

A outra dificuldade maior diz respeito ao significado da frase “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram (…) e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento”. O grego traz palin anakainizein eis metanoian, “renovar outra vez para arrependimento”. Essas palavras, à primeira vista, dão a impressão de que as pessoas referidas no trecho, alguma vez já haviam se arrependido, mas, agora, tendo perdido esse arrependimento, não podem ser renovados nele. Se essa fosse a interpretação correta, teria sido realmente provada a falsidade da doutrina da perseverança dos verdadeiros crentes.

O verdadeiro arrependimento, porém, é descrito na Bíblia “para a vida” (At 11.18), para o perdão dos pecados (Mc 1.4), e para a salvação (2Co 7.10). De conformidade com o prevalecente testemunho do Novo Testamento, as palavras “outra vez” implicam que o arrependimento das referidas pessoas não pode ter sido genuíno. Teria sido apenas uma profissão exterior de arrependimento, comparável à fé temporária descrita em Lucas 8.13.

Considere outra vez o que o autor de Hebreus disse que faria. Não lançaria de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas que conduzem à morte, e da fé em Deus (6.1 ). Já fizemos isso antes, o autor prossegue, e não precisamos fazê-lo de novo. No seu caso (dos leitores da epístola, presumidamente crentes), é desnecessário lançar de novo o fundamento. No caso daqueles que foram iluminados e caíram, é inútil lançar outra vez o fundamento. Por isso era impossível renová-los outra vez para arrependimento. Nós, seus líderes espirituais, uma vez os levamos ao que pensamos ser uma profissão de fé e arrependimento; mas agora é óbvio que essa profissão não foi sincera. Agora eles foram além do ponto em que uma profissão externa de arrependimento é possível.

Encontramos uma passagem semelhante em Hebreus: 10.26-29, onde se lê nos primeiros dois versos: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários”. Esses aqui retratados têm sido obviamente instruídos na fé cristã, mas retrocederam de um compromisso externo com a verdade cristã. Para eles não há possibilidade de perdão, mas somente uma “expectação horrível de juízo”. Muitos intérpretes entendem essas palavras como descrição do “pecado sem perdão”. Mas pode um verdadeiro crente cometer esse pecado? Pode um crente cair do Deus vivo (Hb 3.12)? Outra vez, à luz de Hebreus 7.25, a resposta é Não!

Finalmente, consideramos uma passagem da segunda epístola de Pedro:

“Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tomou-se o último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2Pe 2.20-21).

Estamos aqui de novo considerando pessoas que tiveram algum conhecimento de Cristo e do caminho da justiça, mas se enredaram de novo na corrupção do mundo e voltaram suas costas à lei de Deus – tanto que, diz Pedro, tornaram-se piores do que antes. Foram essas pessoas verdadeiramente crentes? Era seu conhecimento de Cristo um conhecimento verdadeiro e salvador? Não há indicação no texto de que fossem verdadeiros crentes. Além disso, antes, nessa epístola, Pedro descreveu os crentes como aqueles que associam à fé, a virtude, o conhecimento, o domínio próprio, a perseverança, a piedade, a fraternidade e o amor, assegurariam sua vocação e eleição; e acrescenta a promessa: “não tropeçareis em tempo algum” (2Pe 1.5-11). Na sua primeira epístola, como já vimos, o mesmo autor disse que os verdadeiros crentes não só têm uma herança que nunca perece, como são guardados ou preservados pelo poder de Deus mediante a fé, até a chegada da salvação pronta para ser revelada no último tempo (1Pe 1.3-5). Não é óbvio que aqueles descritos em 2Pedro 2.20-21 não cabem nessa descrição?

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Fonte: Trecho extraído do livro do autor Salvos pela Graça. Cultura Cristã, págs 243-246.

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